FGV: Desafios domésticos persistem, apesar de progresso nas vacinas

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ROSANA HESSEL

As notícias das últimas semanas sobre os avanços nos testes de vacina contra a covid-19 tem feito o humor dos mercados oscilarem bastante, mas o recrudescimento da pandemia, em especial na Europa, tem gerado preocupações no mercado externo e também no Brasil, que tem problemas domésticos que estão longe de serem totalmente solucionados, de acordo com o Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), divulgado nesta quinta-feira (26/11).

O relatório informou que o cenário previsto para o primeiro semestre de 2021 é que um amplo programa de vacinação nos países desenvolvidos deverá entrar em curso, mas, no Brasil, ainda há dúvidas de quando é que isso deverá ocorrer. As incertezas no processo de retomada e de um plano mais estruturado para o controle dos gastos públicos no ano que vem, são alguns dos entraves apontados, pois a desconfiança está voltando a crescer.

O instituto projeta retração de 4,9% no produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019, e crescimento de 7,4% na margem (em relação aos três meses imediatamente anteriores).  Para o ano, a previsão é de queda de 5% e a entidade sinaliza perda na confiança.

“Conforme destacado na prévia das sondagens do FGV IBRE, com dados coletados até o dia 13 de novembro, há um recuo na confiança empresarial e dos consumidores. Em relação ao número final de outubro, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 0,9 ponto, para 96,2 pontos, enquanto o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 2,2 pontos, para 80,4 pontos”, informou o documento.

O Boletim ainda lembrou que, apesar de a indústria continuar com resultados favoráveis até o momento, mesmo esse setor as expectativas em relação aos próximos meses começaram a ser revistas para baixo. “Também no Brasil os ativos financeiros se beneficiaram do otimismo advindo dos resultados positivos quanto às vacinas. No entanto,  em termos de perspectivas para 2021, o que preocupa mais é a paralisia na agenda de reformas estruturais e as declarações sobre uma possível extensão de estímulos fiscais no ano que vem com a deterioração do quadro fiscal afeta negativamente os mercados e limita os ganhos resultantes do aumento do apetite dos investidores pelo risco”, completou.

O boletim ainda demonstrou que o mau humor com o rumo da política econômica se reflete no Índice de Condições Financeiras (ICF) produzido pelo FGV IBRE, que, “a despeito da melhora observada em novembro, continua cerca de 40% acima dos valores verificados entre os meses de abril e agosto.” “A partir de setembro, houve um forte aumento da incerteza fiscal, com impactos significativos sobre os preços dos ativos financeiros e, consequentemente, um aperto nas condições financeiras”, informou a apresentação assinada pelos economistas Silvia Matos e Armando Castelar Pinheiro.

Vicente Nunes