ROSANA HESSEL
Em dia de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) manteve a taxa de juros básica inalterada no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, nesta quarta-feira (20/9).
A decisão era esperada pelo mercado e, com isso, os juros norte-americanos continuam no maior nível desde 2001.
No comunicado, Fed reforçou que o sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente e afirmou que procura atingir o patamar máximo de emprego e de inflação em 2% a longo prazo. “Condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas poderão pesar sobre a atividade econômica, as contratações e a inflação. A extensão destes efeitos permanece incerta. O Comitê permanece muito atento aos riscos de inflação”, destacou o comunicado.
“Ao avaliar a orientação adequada da política monetária, o Comité continuará a monitorizar as implicações das informações recebidas para as perspectivas económicas. O Comité estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objectivos do Comité. As avaliações do Comité terão em conta uma vasta gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais.
Para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, o tom do comunicado foi hawkish (menos tolerante com a inflação). “Eles não simplesmente mantiveram os juros, mas também colocam previsões de juros mais altos nos dois próximos anos”, disse. “O Fed até pode começar a cortar os juros no ano que vem, mas será de forma bem lenta”, apostou.
Marcos Moreira, sócio da Nexgen Capital, também avaliou o comunicado do Fed mais duro, pois o Fomc, o Copom norte-americano, sinalizou que continuará com a visão de dependência de dados essenciais da atividade para ditar com mais precisão o rumo das próximas decisões de juros. “Mas existem alguns pontos de destaque que precisamos considerar, que fundamentam esse tom, primeiro é que atividade econômica vem surpreendendo e esta em níveis mais fortes do que o previsto, segundo, os últimos dados de inflação indicam que o processo de desinflação ainda está longe do fim”, destacou. Ele ainda acrescentou que as preocupações sobre a dívida do governo dos EUA (que inclusive foi a principal razão da alta dos juros da vértice mais longa da curva) é mais um motivo para esse tom mais hawkish do Fed. “Principalmente, porque o deficit deste ano é o mais elevado da história quando excluímos períodos de choques econômicos, como pandemia e subprimes, então diante do alto nível de incertezas acreditamos que os juros tendem a ficar em níveis mais restritivos por mais tempo, e teria espaço para cortes apenas a partir do segundo semestre de 2024”, acrescentou.
Aqui no Brasil, os agentes financeiros seguem na expectativa da decisão do Copom, que deverá sair mais tarde. O consenso entre analistas do mercado é de uma segunda queda de 0,50 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), de 13,75% para 12,75% ao ano. O ciclo de queda da Selic, após 12 meses em 13,75%, começou na reunião anterior do Comitê, em agosto.
“Acho que a surpresa do Copom será como os novos diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votam. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou, nesta semana, que queria que o ciclo tivesse começado em abril, com 0,75 ponto percentual de corte na Selic”, disse Cruz.