ROSANA HESSEL
Uma em cada nove pessoas no mundo sofreu desnutrição crônica em 2019, proporção que deverá se agravar com a recessão deste ano provocada pela pandemia de covid-19. Esse alerta foi dado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), nesta segunda-feira (13/07), ao divulgar relatório informando que, em 2019, a fome afetava 690 milhões de pessoas, o equivalente à 8,9% da população global.
Conforme os dados da FAO, 10 milhões de pessoas a mais do que em 2018 entraram na lista da fome, e, se compararmos com 2014, esse contingente de famintos ganhou engrossou em mais 60 milhões de indivíduos pelo planeta. Os números são preocupantes e reforçam o feito na semana passada pela Oxfam International, que estima de 6,1 mil a 12,2 mil pessoas a mais do que a média dos últimos anos morrendo por dia neste ano, devido à pandemia.
O estudo da FAO foi elaborado em conjunto com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa Mundial de Alimentos e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pelas estimativas da entidade , até 2030, se essa tendência continuar, o número de pessoas famintas deverá ultrapassar 840 milhões.
As mesmas preocupações da FAO foram apontadas, na semana passada, pela Oxfam International no informe “O vírus da fome”, que indicou o aumento dos riscos de desnutrição da população devido à covid-19, lembrou Maitê Gauto, gerente de Programas e Incidência da Oxfam Brasil . “Nos últimos 5 anos, foram mais 60 milhões de pessoas que passaram a integrar as vergonhosas estatísticas da fome no mundo. O governo brasileiro tem a responsabilidade de atuar de maneira estratégica e articulada para impedir a escalada da fome no país e voltar a ser uma referência mundial, comentou.
Maitê reforçou que, entre os destaques do relatório da FAO, estão recomendações para tornar mais acessíveis os alimentos saudáveis que espelham a experiência bem-sucedida brasileira: investimentos nas políticas de agricultura familiar e a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), em políticas de proteção social, como o programa Bolsa Família e nas decisões da política macroeconômica que ampliaram a capacidade de consumo das famílias brasileiras (valorização do salário mínimo). “A Oxfam Brasil entende que é fundamental o país e o governo brasileiro atuarem para recompor os investimentos em políticas públicas que darão suporte a uma retomada social e econômica da crise aprofundada pela pandemia de maneira sustentável”, acrescentou.
Os dados da FAO revelam ainda 3 bilhões de pessoas não têm capacidade financeira para garantir o mínimo de uma dieta diária saudável. Outro dado mostra que 19,1% do contingente de pessoas com fome estão na África e que 750 milhões de indivíduos têm restrições severas de acesso à comida.