A diretoria do Banco Central, comandada por Ilan Goldfajn, queria muito cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual, mas não teve coragem. Acabou sancionando o que previa a maioria do mercado, queda de 0,25 ponto, para 13,75% ao ano.
Razões não faltam para um BC um pouco mais ousado. A própria instituição listou, no comunicado divulgado após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), motivos de sobra para uma redução mais acentuada da Selic.
Diz o BC, com todo o seu tecnicismo: 1) a atividade econômica mais fraca e o elevado nível de ociosidade na economia podem produzir desinflação mais rápida que a refletida nas projeções do Copom; 2) a inflação tem se mostrado mais favorável no curto prazo, o que pode sinalizar menor persistência no processo inflacionário; 3) o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia pode ocorrer de forma mais célere que o antecipado.
O BC está dizendo, portanto, que a recessão mais prolongada ajudará a derrubar mais rapidamente a inflação; que, mesmo com a recente alta do dólar, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2017 e 2018 caíram; e que o avanço do ajuste fiscal, com a aprovação, pelo Senado, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento dos gastos públicos, ajudará a conter os reajustes de preços. Pelos cálculos do BC, a inflação projetada para o próximo ano está entre 4,4% e 4,7% e, para 2018, entre 3,6% e 4,6%.
O BC, porém, preferiu dar mais peso à questão externa. Teme que o esperado aumento dos juros nos Estados Unidos e as incertezas na condução da política econômica do governo de Donald Trump provoquem estragos no país, a ponto de sustentar um novo ciclo de alta da inflação.
Como dizem os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano, do Banco Haitong, o BC cortou os juros em 0,25 ponto, mas soltou um comunicado como se a Selic tivesse caído 0,50 ponto. Por isso, eles acreditam que, a partir de janeiro do ano que vem, o BC deverá acelerar o passo na condução da política monetária, com baixas sequenciais de 0,50 ponto. É esperar para ver se Ilan e companhia terão coragem de deixar o conservadorismo de lado.
Brasília, 18h35min