BRUNO SANTA RITA
O setor de pesca — um dos mais expressivos em questões socioeconômicas no país — sofre com o atraso de tecnologias para reportar o conteúdo capturado. Segundo pesquisa do oceanógrafo Guilherme Scheidt que compõe um projeto elaborado pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e a Secretaria Especial da Aquicultura e da Pesca (SEAP/PR), os levantamentos estatísticos nacionais da área estão defasados.
“Se a gente não sabe o que está sendo capturado, como a gente sabe o que acontece naquela pescaria”, criticou Scheidt. Ele explicou que a falta de informações sobre o quantitativo e o tipo de pesca capturado atrapalha na hora de avaliar, inclusive, questões de legalidade da prática. Scheidt lembra que a maior parte dos dados existentes são levantamentos de cerca de 10 anos atrás.
A proposta dele para melhorar a apuração desse conteúdo gira em torno do advento tecnológico. De acordo com a pesquisa de Scheidt, a implementação de tablets ou smartphone com um aplicativo que possibilite o credenciamento das espécies capturadas no momento da prática seria menos penoso financeiramente para o governo a longo prazo. “Através do smartphone você monta um banco de dados, verifica se a informação é verdadeira e passa a ter volume de dados maior para analisar”, defendeu.
Hoje, essas informações são colhidas pelos pescadores com anotações em papel. Após o registro, a papelada é levada para o órgão responsável onde ela será digitada e computada. Esse processo, segundo o oceanógrafo, pode trazer um atraso de até três anos para o fechamento de um período de pesca.
Além disso, o pesquisador observou que a gestão pesqueira no Brasil passou por várias transições nos últimos anos. “Foram várias oscilações, não só tecnológicas, mas institucionais. A falta de recurso inviabiliza o foco de servidores em temas específicos por demasiado tempo. Além disso, o setor já foi de responsabilidade de outros órgãos e, agora, está nas mãos da secretaria de pesca, dentro do Planalto”.
O objetivo desse projeto elaborado pela OEI em parceria com a SEAP/PR é, justamente, atualizar a pesquisas sobre o setor para dar suporte à melhorias. De acordo com o diretor da OEI, Raphael Callou, o conglomerado de pesquisas apontam para “todos os desafios considerando, também, os avanços e os casos de sucesso”, disse.
Callou lembra que essas informações, atualmente, não são produzidas anualmente e que, por um tempo, foram feita apenas por amostragem. “Um setor com todo esse potencial que tem uma atuação global representativa precisa ter mais atenção”, declarou. Ele considera que um diagnóstico bem apurado é um fator determinante para o setor.
A respeito do aspecto socioeconômico, o diretor da OEI explica que o setor é muito importante para demandas alimentares. “Nesse ponto, a gente entra no aspecto da segurança alimentar. O setor tem grande capacidade para cumprir as próprias demandas internas no país e contribuir para a geração de renda das pessoas”, explicou. Ele compara que a pesca de pequeno atores desse ramo é semelhante a agricultura familiar. “Pequenos produtores têm impacto muito grande no consumo nacional”, informou.
Óleo diesel
O drama que envolve o combustível diesel não se restringe apenas aos caminhões. Os barcos de pesca também são movidos pelo mesmo tipo de combustível. O impacto do diesel é, então, um ponto a ser observado na hora de se pensar o custo da produção do produto. “Todos os setores que trabalham com logística são impactados”, explicou Callou. A publicação traz uma reflexão sobre o tema e discute uma redução para os custos, bem como o mantimento de subsídios para o diesel.
“O nosso peixe acaba tendo custo maior de produção em função do preço internacional do óleo diesel”, analisou Scheidt. Segundo ele, os pesqueiros reclamam do preço do combustível para a realização das atividades.
Brasília, 17h39min