ROSANA HESSEL
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) virou inimigo público número um na Europa, onde a torcida para a derrota dele nas urnas em 2022 é crescente. Na Noruega, por exemplo, o ex-capitão é odiado, de acordo com brasileiros que moram no país europeu que tinha um fundo bilionário para o desenvolvimento da Amazônia.
A imagem do chefe do Executivo nunca foi boa entre os europeus, mas o escândalo internacional da omissão dos dados de aumento de quase 22% no desmatamento da Amazônia, que não foram divulgados na Conferência das Nações Unidas para o Clima em Glasgow, na Escócia, a COP26, pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apesar de os números estarem consolidados antes do evento. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados apenas ontem (18/11), a taxa de desmatamento na Amazônia Legal atingiu, em 2021, o nível mais alto em 15 anos, de 13.235 km², o que significa um salto de 21,97% em relação aos registros anteriores. A omissão dos dados durante a COP26 por Leite teve repercussão negativa na imprensa estrangeira.
“Os europeus não conhecem muito o Brasil, mas todos odeiam Bolsonaro. O que dá para perceber é que os países da União Europeia só estão esperando ele sair para retomarem as negociações do acordo de livre comércio com o Mercosul”, contou um economista brasileiro baseado no Velho Continente.
Após 20 anos de negociação o acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul foi assinado em 2019, mas está paralisado, principalmente, porque o Brasil não para de registrar aumento nos indicadores de desmatamento na Amazônia. Como os ambientalistas ganham espaço nos parlamentos da Europa e os consumidores do Velho Continente são muito atentos à questão da preservação ambiental e aos riscos das mudanças climáticas, os várias redes de varejo ameaçam boicotar, desde a primeira metade do ano, os produtos brasileiros devido às pressões dos clientes.
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Europa nesses últimos dias tem mostrado qual é a relevância de Lula e de Bolsonaro entre os líderes europeus. Enquanto atual inquilino do Palácio da Alvorada foi escanteado na cúpula do G20 — grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta mais a União Europeia –, realizada no mês passado na Itália, Lula vem sendo recebido com tapete vermelho, seja pelo Parlamento Europeu, onde foi aplaudido em pé; seja no Palácio do Eliseu, sede do governo da França onde o presidente Francês; seja na Espanha, onde o petista foi recebido, nesta sexta-feira (19/11), pelo primeiro-ministro Pedro Sanchez.
Outro economista de um fundo de investimento baseado nos Estados Unidos destacou que não é apenas a imagem de Bolsonaro que está deteriorada entre os estrangeiros, mas também a do ministro da Economia Paulo Guedes, diante da deterioração dos cenários político e econômico, especialmente, com as aventuras populistas do governo com a PEC dos Precatórios. “Muitos compraram a ideia de que o Guedes iria garantir o discurso de responsabilidade fiscal, mas estão vendo que isso não vai ocorrer e ele não sai de jeito nenhum, independente dos erros que forem cometidos”, afirmou o analista, que prevê queda de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem. Para ele, Guedes é igual ao Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma), por executar o que os presidentes mandam sem questionar.