Equipe econômica usa queda menor do PIB para reduzir rombo fiscal

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

MARINA BARBOSA

 

A equipe econômica liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a repetir a prática da ex-presidente Dilma Rousseff em usar dados muito otimistas para evitar divulgar dados ruins nas contas públicas. No dia em que o Diário Oficial da União confirma a saída de Mansueto Almeida da secretaria do Tesouro Nacional, um dos maiores defensores da austeridade fiscal, e a nomeação de Bruno Funchal como substituto, o governo prefere manter as previsões de queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 4,7%, em vez de alinhar as projeções com as do mercado. Com isso, ainda antecipa que vai reduzir as previsões para o rombo fiscal, em uma manobra contábil “criativa”.

 

A manutenção das previsões de queda do PIB em 4,7%, nesta quarta-feira (15/07), evitam, por um momento, um tombo drástico da receita que não conseguirá fazer frente ao grande aumento dos gastos com medidas emergenciais para o combate à crise provocada pelo novo coronavírus. Pelas estimativas do Tesouro Nacional, de junho, o governo passou a prever um rombo das contas do governo central (que inclui Tesouro, Previdência Social e Banco Central) em 2020, de R$ 675,7 bilhões, ou 9,4% do PIB. E, no início deste mês, essa estimativa, considerando queda de 6,5% do PIB, essa previsão passou para R$ 795,6 bilhões, ou 11,5% do PIB.

 

Agora, de acordo com o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues, diante da perspectiva oficial de queda de 4,7% do PIB as estimativas do rombo das contas públicas serão reduzidas. “Como mantivemos essa estimativa, as perspectivas de déficit também serão revistas”, antecipou, dizendo que os novos indicadores fiscais devem ser divulgados no fim do mês.  “Temos uma estimativa oficial da SPE e haverá uma tendência a uma redução nessa estimativa de deficit primário que está em 12% para 2020″, afirmou.

 

Para o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, não existe otimismo nas projeções, mas “dados consistentes” com o que está sendo apresentado pela retomada da economia.  “Temos que manter um debate honesto na nota metodológica”, afirmou.  Segundo ele, a velocidade de retomada foi melhorada e o “efeito líquido dos dados” da SPE pareceu não mudar muito a projeção anterior e, por conta disso, as estimativas foram mantidas.

 

De acordo com Sachsida, quem fez uma projeção de queda acima de 6% vai ter que rever suas estimativas. “Pelos dados que temos hoje, acredito que nas próximas semanas vamos ver vários agentes revendo suas projeções”, cravou o secretário. Ele explicou que medidas públicas o auxílio emergencial e os programas de preservação do emprego têm sido efetivas. E afirmou que como, “a economia é um mecanismo vivo”, os brasileiros têm encontrado formas de lidar com o novo normal. Por isso, acredita que a recuperação econômica está ocorrendo em velocidade superior ao previsto, já a partir de maio e de junho. 

 

O chefe da SPE admitiu, contudo, que existem tanto fatores positivos, quanto negativos nesse processo de recuperação. “A expansão do auxílio, as novas formas de comércio online estão estimulando a economia. Por outro lado, esperávamos que a economia fosse reabrir em junho e a pandemia está durando mais que o esperado, isso piora as projeções”, afirmou.

 

De acordo com Sachsida, a projeção de queda de 4,7% é a pior queda da série histórica em 120 anos. “Temos plena certeza  e convicção de que o momento é realmente difícil. Agora, é menos difícil do que alguns poderiam crer lá por abril. Então, acho que tivemos bons resultados com as medidas econômicas adotadas pelo governo”, afirmou.

 

 

Dura realidade

 

A Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado Federal, que acompanha as contas públicas com lupa, prevê um deficit primário de R$ 877 bilhões para as contas do governo central, o equivalente a 12,7% do PIB. Conforme o último relatório da entidade, divulgado na segunda-feira (13). Esse resultado vai implicar em rombos fiscais de R$ 95 bilhões ao mês.

 

Segundo os dados da IFI, a dívida pública bruta chegou a o recorde histórico de 81,9% do PIB e, se forem incluídas as operações compromissadas que crescem em ritmo acelerado, esse percentual já chega em 90% do PIB. “Além da rolagem da dívida mobiliária, haverá enorme necessidade de financiamento nos próximos meses, a exemplo do que já ocorreu desde abril. Por isso, será preciso encontrar demanda para sucessivas e elevadas emissões líquidas de papéis”, destacou o relatório.