Endividamento das famílias bate novo recorde, de acordo com Banco Central

Compartilhe

ROSANA HESSEL

Após ficar estável entre março e abril, o endividamento das famílias em referência à renda bruta disponível aumentou de 52,7% para 52,8%, entre abril e maio, conforme dados divulgados nesta segunda-feira (29/8),  pelo Banco Central, em nota mensal de estatísticas do mercado de crédito.

A taxa de endividamento das famílias em maio, de 52,8%, foi a maior da série histórica, iniciada em 2005, considerando a nova metodologia de cálculo do BC, que tem uma defasagem em relação ao mês da pesquisa. Na série anterior, que tem dados somente até agosto de 2021, a taxa recorde de endividamento das famílias tinha atingido 59,90% da renda bruta familiar naquele mês. Enquanto isso, pela metodologia atual, que passou a considerar os benefícios do governo como fonte de renda, como o auxílio emergencial, a taxa era de 49,33%.

Sem considerar o endividamento com as famílias com financiamento imobiliário, o percentual da renda familiar comprometida com dívidas passou de 33,4% para 33,5% entre maio e junho. O comprometimento total da renda das famílias brasileiras no trimestre encerrado em junho passou chegou a 27,6%, acima dos 27,4% de maio, mas abaixo dos 27,7% de março.

Juros nas alturas

Diante do aperto monetário do Banco Central, que vem elevando a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, no esforço de conter a inflação, sem muito sucesso – pois o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apesar da desaceleração recente, continua acima dos tetos das metas deste ano (5%) e do próximo (4,75%), o custo do crédito não para de crescer.

O Indicador de Custo do Crédito (ICC) do BC, que mede o custo médio de todo o crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN), subiu 0,3 ponto percentual (p.p.), na variação mensal, e 3,2 p.p, em 12 meses, para 20,5% ao ano. No crédito livre não rotativo, a média do ICC ficou em 26,7% a.a., com altas de 0,3 p.p,. em junho, e de 4,0  p.p., em 12 meses.

O juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito, por exemplo, passou de 368,8% ao ano, em maio, para 370,4%, em junho, – o maior patamar registrado no ano. O custo anual do cheque especial também subiu, passando de 314,9%, em maio, para 316,9% ao ano, em junho.

O spread – margem dos bancos sobre os empréstimos, incluindo lucro e custo operacional – geral do ICC aumentou 0,1 p.p., no mês, para 13,4 p.p., em  12 meses, acumulando elevação interanual de 1,3 p.p.

Diante do custo elevado dos empréstimos e ao aumento do endividamento das famílias, a taxa média de inadimplência permanece no maior patamar do ano, de 2,7%, mesma taxa registrad desde abril, segundo os dados do BC.

Dados do mercado de crédito

De acordo com dados do Banco Central, o volume de crédito ampliado ao setor não financeiro cresceu 3% no mês de junho em relação ao anterior, passando para R$ 14,1 trilhões, o equivalente a 153,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse resultado, segundo a autoridade monetária, foi decorrente, principalmente, do aumento da dívida externa, que cresceu 6,8% devido à desvalorização cambial no mês, de 10,8%.

O crédito ampliado às empresas cresceu 4,6% em junho, para R$ 4,8 trilhões (52,7% do PIB) na mesma base de comparação. Enquanto isso, o crédito às famílias avançou 1,3%, para R$ 3,1 trilhões (34,2% do PIB), no mesmo período.

Conforme os dados do BC, o estoque das operações de crédito do SFN cresceu 1,6% em junho, na comparação com maio, somando R$ 5  trilhões. As concessões de crédito totalizaram R$ 503,9 bilhões em junho, registrando acréscimo de 24,8% no acumulado em 12 meses. Nas séries com ajuste sazonal, as concessões para empresas recuaram 0,9%, enquanto no segmento de pessoas físicas, cresceram 1,8%.

Vicente Nunes