A crise entre o Congresso e a presidente Dilma Rousseff, que vem colecionando uma série de derrotas em projetos de interesse do governo, levou muitos bancos a convocarem reuniões de emergência para avaliar até que ponto o embate político pode inviabilizar o ajuste fiscal e empurrar a economia de vez para o buraco.
Ainda que ninguém trabalhe com uma ruptura definitiva entre o Legislativo e o Executivo, o temor é grande devido ao rápido enfraquecimento de Dilma. Muitos executivos do mercado financeiro já a veem de joelhos ante um PMDB ávido por ampliar suas garras pela Esplanada dos Ministérios.
Os últimos dois dias foram de muita tensão e de piora na confiança. Diante do tiroteio entre a chefe de governo e o presidente do Senado, Renan Calheiros, boa parte dos analistas refez as contas e passou a projetar indicadores ainda mais desanimadores para a economia.
A expectativa, agora, é de que a inflação feche o ano em até 9%, mesmo com o mais recente aumento da taxa básica de juros (Selic), para 12,75% ao ano. A conta foi ampliada pela disparada do dólar, que, ontem, encerrou os negócios cotado a R$ 3,011, preço que não se via desde agosto de 2004.
A sensação de descontrole é tão grande, que ninguém se arrisca a cravar para onde vai o dólar. Uns falam em R$ 3,20; outros, em R$ 3,40. Os mais pessimistas chegam a prever até R$ 4, caso o país venha a ser rebaixado pelas agências de classificação de risco. Há, porém, quem acredite no recuo das cotações nas próximas semanas, prevendo o arrefecimento na crise política.
Pode até ser que essa parcela mais otimista de analistas esteja certa. Mas o estrago na atividade já está feito. A visão é de que o Produto Interno Bruto (PIB) terá, neste ano, queda mínima de 1%. Não há nada que o governo possa fazer para reverter o tombo da economia.
A esperança é de que a presidente Dilma aprenda a lição. Foi ela quem jogou o país no atoleiro ao inventar a tal “nova matriz econômica” que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega executou à risca. Ele contratou mais inflação ao adiar os reajustes das tarifas públicas e destruiu a credibilidade das contas públicas ao sancionar as maluquices de Arno Augustin à frente do Tesouro Nacional.
Mantega e Augustin têm evitado dar declarações públicas. Sabem que não têm argumentos para justificar todas as besteiras que cometeram. A amigos, porém, queixam-se da “nova Dilma”, que acuada, recorreu a Joaquim Levy para mudar, por completo, a rota da política econômica.
No dia em que Levy classificou como “brincadeira” e “rudimentar” a política de desoneração que se tornou o estopim da briga entre Renan e Dilma, Mantega fez chegar ao Planalto o seu descontentamento. Disse que seu sucessor no Ministério da Fazenda havia “passado dos limites”.
Tanto no mercado quanto no governo, o entendimento é de que o nervosismo continuará no ponto máximo até que saia a lista dos denunciados da Operação Lava-Jato pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Será, como definem os analistas, uma espécie de último capítulo da novela.
“Está todo mundo em compasso de espera”, diz um banqueiro. “Só esperamos que, independentemente das denúncias, não se parta para o tudo o nada. Uma guerra fratricida agora será cruel. Não haverá vencedores. Todos perderão. O Brasil será terra arrasada”, conclui.
Fuga de recursos
Donos de grandes fortunas aceleraram as remessas de dólares para o exterior nos últimos dois dias. A justificativa foi a de que ninguém quer esperar pelas cenas dos próximos capítulos do embate entre o Congresso e o governo. Não houve economia nas retiradas. O principal destino do dinheiro foram os Estados Unidos.
De olho no impeachment
» O governo está acompanhando com lupa os movimentos nas redes sociais convocando a passeata do próximo dia 15 pelo impeachment da presidente Dilma. A avaliação, até agora, é de que o tema não pegou. Mas todo cuidado é pouco.
Defesa do ajuste
» São de 99% as chances de Dilma aproveitar o pronunciamento que fará sobre o Dia Internacional da Mulher para defender as medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo governo e tripudiadas pelo Congresso.
Apetite pelo HSBC
» Gente grande do mercado financeiro anda percebendo movimentos crescentes do Bradesco e do Itaú Unibanco para a compra do HSBC no Brasil. O bancão estrangeiro já avisou que, caso não consiga melhorar seus resultados em até dois anos, deixará o país.
Brasil pior que os EUA
» Com a alta do desemprego no Brasil, analistas acreditam que, muito em breve, a taxa brasileira, de 5,3% nas seis principais regiões metropolitanas, ultrapassará o índice observado nos Estados Unidos, de 5,7%. Se a comparação for feita com a Pnad contínua, que pega o país inteiro, a desocupação no Brasil já está muito maior que nos EUA: 6,5%.
JBS está mal na foto
» A JBS passou a monitorar as redes sociais para medir como anda a sua imagem entre os brasileiros. Das mais de 81 mil citações no mês passado, 82% foram negativas, 16% neutras e apenas 2% positivas. A empresa acredita que esse quadro decorre do que chama de “lendas urbanas”. Uma delas, que Lulinha, filho do ex-presidente Lula, é o dono da companhia.
Brasília, 18h25min