Em julho, 67,9 milhões de pessoas estavam em situação mais vulnerável

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ROSANA HESSEL

A piora no mercado de trabalho em meio à pandemia de covid-19 é evidente e não há motivos de comemoração. Um levantamento feito pelo economista Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), comparando os dados de vulneráveis e pessoas recebendo o auxílio emergencial de R$ 600, mapeou um contingente de 67,9 milhões de “mais vulneráveis” no mercado de trabalho, em julho, ou seja, mais do que o número de 65 milhões de pessoas beneficiadas pelo programa divulgado pelo governo.

O levantamento ao qual o Blog teve acesso usou com base na Pnad Covid — uma versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — do mês passado.  Segundo Balassiano, o contingente de 67,9 milhões “mais vulneráveis” é resultado da soma dos desocupados com as pessoas que não procuram trabalho, mas gostariam de trabalhar, e os informais e corresponde 55,6% da força de trabalho ampliada nacional, que considera a População Economicamente Ativa (PEA) e aqueles que não estão procurando emprego, ou seja 122 milhões de pessoas.  Enquanto isso, a média nacional de domicílios que recebeu o auxílio emergencial em julho foi de 44%.

O dado computado pelo economista do Ibre para os “mais vulneráveis” é muito parecido com os cerca de 70 milhões de pessoas em situação “mais vulnerável” no mercado de trabalho apontada pela Pnad em fevereiro, ou seja, antes da chegada oficial da covid-19 ao país. Logo, isso mostra que nunca existiu um contingente “invisíveis” que o ministro da Economia, Paulo Guedes, gosta de afirmar ao comentar sobre os beneficiários do auxílio emergencial pago durante a pandemia aos mais vulneráveis.

Para Balassiano, não é possível afirmar que havia um contingente de “invisíveis” no mercado de trabalho. O que pode ter ocorrido, segundo ele, é uma mudança de conceito, como um informal ter se tornado um desalentado ou parado de procurar emprego durante a pandemia, mas essas pessoas em situação de vulnerabilidade sempre estiveram e eram mapeadas pelos dados do IBGE, contudo, não estavam sendo atendidas por nenhum programa de assistência social do governo. “Um ponto central é que todos sabiam desses números, não há o que negar”, comentou Balassiano. Ele considera o auxílio emergencial um programa importante para ajudar essas pessoas mais vulneráveis, mas admite que nem todos acabaram sendo beneficiados.

“O auxílio emergencial ajuda essas pessoas mais vulneráveis e foi uma das medidas mais urgentes a serem tomadas. Apesar dos problemas, como fraudes de quem não deveria receber o auxílio e outras terem ficado de fora, o programa pode ser considerado bem sucedido por atingir 65 milhões de brasileiros”, afirmou Balassiano.

Em meio ao impasse sobre o Renda Brasil, programa que vai substituir o Bolsa Família, mas não tem recursos para financiá-lo, e a prorrogação do auxílio emergencial, Balassiano lembrou que é importante frisar o caráter emergencial do programa emergencial, que tem um custo elevado, de R$ 50 bilhões por mês, mas foi uma boa medida para situação crítica de recessão durante a pandemia. “Para o futuro, gastos temporários não podem virar permanentes, em função do grave problema fiscal do Brasil, pré-coronavírus, e que foi agravado mais ainda com a crise atual”, afirmou.

De acordo com dados do levantamento, as regiões Norte e Nordeste possuem as médias de “mais vulneráveis” no mercado de trabalho do que a média do Brasil e, coincidentemente, são também os que mais recebem o auxílio emergencial. Estados com taxas de mais vulneráveis bastante elevadas, acima 70%, foram sete. São eles: Maranhão (75,2%),  Piauí (70,2%), Alagoas (70,2%), Amazonas (71,8%), Pará (70,2%), Amapá (72,2%) e Bahia (70,2%).

Veja o quadro com as unidades federativas:

Vicente Nunes