O retrato do desastre econômico que foi 2015 será mostrado hoje, sem retoques, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao que tudo indica, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou queda entre 3,8% e 4%, tombo sem precedentes em 25 anos. Se confirmada a projeção mais pessimista do mercado, a média anual de crescimento do país durante os cinco primeiros anos do governo Dilma Rousseff será inferior a 1%, mais precisamente, de 0,98%.
A recessão que assusta a todos foi criada exclusivamente pelo governo. Desde que tomou posse, em 2011, Dilma pôs em prática boa parte dos programas defendidos pelo PT, que resultaram na tal Nova Matriz Econômica. O combate à inflação passou a ser assunto secundário. As taxas de juros foram reduzidas sem qualquer critério técnico. O Tesouro Nacional ampliou a gastança e levou a dívida pública a níveis insustentáveis. O Planalto interveio nos preços da gasolina e da energia elétrica, criando distorções cuja fatura será paga por vários anos.
Apesar de todos os alertas de que a economia estava afundando, Dilma insistiu nos erros. Mesmo quando emitiu sinais de que, enfim, havia reconhecido que o país caminhava para o precipício e nomeou Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, continuou apoiando políticas equivocadas, que destruíram, por completo, as bases da estabilidade. As fissuras no tripé econômico — metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal — que permitiu ao Brasil agregar 40 milhões de pessoas ao mercado de consumo foram tão profundas, que hoje é impossível dizer quando o país sairá do atoleiro.
Dilma não economizou nas estripulias. Além de obrigar os brasileiros a conviverem com inflação próxima de 11%, trouxe de volta o desemprego. O exército de desocupados já passa de 9 milhões e deve continuar aumentando nos próximos meses. De cada 10 jovens entre 18 e 24 anos das seis principais regiões metropolitanas do país, dois estão sem trabalho, vendo sonhos serem destruídos e os riscos da violência aumentarem. O mais dramático é que vários desses jovens foram beneficiados pelos programas de acesso às universidades bancados pelo governo.
Não é só. O Brasil de Dilma foi rebaixado à condição de lixo pelas três principais agências de classificação de risco do mundo — Standard & Poor’s (S&P), Fitch e Moody’s —, restringindo o acesso de empresas ao mercado internacional de crédito. O número de pedidos de falências não para de crescer. Nos dois primeiros meses do ano, cresceu 36%, segundo a Boa Vista SCPC. Na comparação de fevereiro de 2016 com o mesmo período de 2015, o salto foi de 76,3%. Mais empresas quebrando significa desemprego maior.
Cúmplice do desastre
Nesse quadro dramático, era esperado que o Banco Central estivesse usando a política monetária para estimular a atividade. Mas está de mãos atadas por uma razão simples: não controlou a inflação. Em vez de agir de forma técnica, a instituição se deixou cooptar pelos interesses políticos. Isso ficou claro a partir de outubro de 2011. Para atender aos apelos do Palácio do Planalto, o BC deu início a um longo processo de redução da taxa básica de juros (Selic), a despeito de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estar distante do centro da meta, de 4,5%. A Selic caiu de 12,50% para 7,25% ao ano, o patamar mais baixo da história. Dilma queria, a todo custo, que os juros reais (que descontam a inflação) caíssem para 2%.
Como os sinais de descontrole da inflação ficaram evidentes, a autoridade monetária foi obrigada a subir os juros seis meses depois de Dilma ostentar seu troféu. E só interrompeu o processo em maio de 2014, quando a campanha à reeleição da petista já estava nas ruas. Não havia como o BC elevar a Selic com a presidente da República pregando que a carestia era invenção da oposição. Três dias depois de as urnas confirmarem a vitória dela, o BC retomou a trajetória de alta dos juros, sem sucesso, por falta de credibilidade. A inflação continuou subindo. Alcançou 10,67% em 2015 e pode fechar este ano entre 8% e 9%.
O BC sabe que o Produto Interno Bruto (PIB) está derretendo. Pode cair mais 4% em 2016. Ontem, porém, teve de se contentar em manter a Selic inalterada pela quinta vez consecutiva, em 14,25%. O BC, como se tornou rotina no governo, joga boa parte da culpa pela crise às “incertezas internacionais”. Os problemas, no entanto, são todos nossos. As decisões erradas na economia agravam a recessão e o governo não tem base política para aprovar, no Congresso, projetos que poderiam resgatar um pouco da confiança perdida.
Com todo esse fracasso, o certo é que estamos nos distanciando do mundo, que continua crescendo. Isso significa perda de emprego, salários menores e futuro comprometido. As próximas gerações devem se preparar para a herança maldita que o governo Dilma lhes entregará.
Brasília, 08h13min