O empresário Marcus Santos, de 45 anos, fez história e se tornou o primeiro brasileiro a vencer uma disputa para deputado em Portugal. Há 15 anos vivendo no país europeu, ele concorreu pelo Chega, partido da ultradireita que teve um impressionante crescimento nas eleições deste domingo (10/07), quadruplicando a bancada de parlamentares na Assembleia da República, de 12 para 48.
O ex-lutador de artes marciais, que é vice-presidente do Chega, ganhou o posto de deputado pelo estado do Porto, onde mora. O partido teve 18,1% dos votos apurados e venceu no Algarve, o que não ocorria há 30 anos, quebrando uma alternância histórica entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD), que integra a Aliança Democrática (AD).
Em recente entrevista ao Blog, Santos disse que “será uma honra tornar-se o primeiro luso-brasileiro a ter a confiança dos portugueses para os representar na casa da democracia”. Prometeu representar não só os portugueses, mas todos os imigrantes que, como ele, encontraram em Portugal um novo lar. “Um país melhor para os portugueses será um país melhor para todos”, acrescentou.
Segundo o empresário, apesar de ser negro e brasileiro, ele nunca sofreu qualquer discriminação dentro do Chega, ainda que uma grande ala dentro do partido seja contra a presença de estrangeiros em Portugal, estimulando a xenofobia e o racismo. O próprio Santos defende um controle maior da imigração em território luso.
“O Chega quer apenas um controle maior na entrada de imigrantes em Portugal. Devem ser permitidos apenas aquelas pessoas com habilidades que o país precisa, mão de obra qualificada. Não se trata de xenofobia, trata-se de proteger os cidadãos locais”, destacou.
Santos, que é dono de uma rede de academias em Portugal, assinalou que os imigrantes que escolheram Portugal para morar e trabalhar não querem que as portas estejam escancaradas “para qualquer um”. “Da forma como está, a imigração tem trazido a violência. Já houve piora nos sistemas públicos de saúde e de educação, que estão sobrecarregados”, frisou.
O brasileiro ressaltou, ainda, que o trânsito livre para imigrantes facilita o tráfico de seres humanos e leva muitos deles a serem explorados quase que como escravos. “Além disso, não há casas suficientes no país para quem vem de fora. Assim, muita gente acaba se amontoando em um único imóvel. Por isso, o Chega defende o controle da imigração”, emendou.
Bandeira conservadora
A bandeira principal de Santos na campanha foi a proteção à família. “O Chega é um partido de patriotas, de nacionalistas, com prioridade para os portugueses. Esse é o motivo de colocarmos a família à frente de tudo”, disse. Para ele, foi justamente o discurso conservador do partido que atraiu um grande número de apoiadores, sobretudo, os mais jovens, que “estão desesperançados com tanta corrupção”.
Entre os brasileiros que moram em Portugal, a maior parcela dos votantes no Chega é de evangélicos. “São pessoas que não buscam benefícios, querem apenas proteger a família e acreditam que homem é homem e mulher é mulher. Com essa posição, o Chega tem atraído até muçulmanos”, complementou.
No entender dele, as pessoas estão fartas do PS (Partido Socialista, que governou Portugal nos últimos oito anos). “Há dificuldades por todos os lados, até o policiais fizeram protestos”, assinalou. Ele disse ainda que, caso haja uma coligação do Chega com a Aliança Democrática para a formação de uma maioria no Parlamente, o partido da ultradireita vai exigir atuação efetiva no Executivo. “Se entrarmos num governo, será para ter participação efetiva, com direito a vários ministérios”, avisou.