Por trás das análises nada animadoras sobre a situação do país, uma guerra vem sendo travada entre os economistas por causa dos rumos tomados pelo Conselho Federal que representa a categoria. Há acusações de todos os lados, sobretudo de aparelhamento e de desvio ético. Integrantes do órgão acusam, sobretudo, a regional do Rio de Janeiro de estar cometendo irregularidades para perpetuar um grupo restrito no poder.
A disputa aumentou nos últimos dias, diante da proximidade das eleições regionais, marcadas para o fim de outubro. Como se tornou rotina, o Rio terá chapa única. A intenção, segundo economistas, é garantir mais seis anos de mandato para Wellington Leonardo Silva — há possibilidade de reeleição a cada três anos. Ele é funcionário da regional fluminense e foi vice-presidente do sistema federal. Para muitos, isso caracteriza conflito de interesse, pois Silva se tornou fiscal dele mesmo.
A maior queixa de associados da regional do Rio está relacionada à falta de transparência na gestão do órgão. Há uma regra que obriga todas as regionais a repassarem mensalmente para o Conselho Federal 20% das anuidades pagas pelos filiados. No Rio, porém, isso ocorre, na melhor das hipóteses, a cada três meses. Esse atraso teria como objetivo maquiar o número de associados, que garante assento no sistema nacional.
Defesa
Presidente do Conselho Federal, Júlio Miragaya rebate todas as acusações. Ele ressalta que os conflitos são políticos e recomenda aos descontentes que recorram à Justiça para fazer valer suas posições. Na avaliação dele, não há nada que impeça Wellington Leonardo Silva de, ao mesmo tempo, ser funcionário da regional do Rio e de ocupar um posto no sistema federal. “O conflito de interesse só se confirmaria se ele ocupasse um cargo de comando no órgão do qual é empregado”, diz.
Miragaya diz ainda que a legislação não obriga as regionais a repassarem parte das anuidades ao Conselho Federal imediatamente. O prazo é definido por regional. Ele afirma ainda que o Rio tem o tamanho que merece no sistema nacional. “Hoje, são dois representantes, pois conta com pouco mais de 9,5 mil associados”, frisa. As regionais com até 5 mil integrantes têm direito a um assento no Conselho Federal. Entre 5 mil e 10 mil, são dois assentos; acima de 10 mil, três.
“Portanto, tudo está estritamente dentro da lei”, frisa Miragaya. Para ele, os ruídos são desnecessários. Seus opositores, contudo, dizem que, por causa do aparelhamento do Conselho, o órgão perdeu importância no debate nacional. O esvaziamento está se acelerando, também, por causa do fechamento dos cursos de economia. Por lei, só podem se filiar aos conselhos pessoas com graduação. Não são aceitos aqueles que só têm pós-graduação ou doutorado na área.
Ostracismo
Nos grandes bancos, boa parte dos atuais profissionais que atuam nos departamentos econômicos não têm graduação em economia. São engenheiros, físicos, matemáticos com pós-graduação em economia. Todas essas pessoas, mesmo dando as cartas no debate econômico, estão alijados dos conselhos regionais e do federal. Há um projeto de lei tramitando no Congresso para retirar essa barreira. Mas ninguém espera uma decisão para breve. Muito pelo contrário.
Com isso, os conselhos de economia tenderão a encolher ano após ano. O maior deles, o de São Paulo, chegou a ter 15 mil associados até bem pouco tempo. Hoje, já são 12 mil. Não está havendo renovação dos quadros, porque as universidades estão fechando os cursos de economia e a profissão já não desperta mais tanto glamour. Empresas e bancos que demandam pessoas para os departamentos econômicos preferem profissionais com conhecimentos mais amplos.
Brasília, 10h10min