É A ECONOMIA, ESTÚPIDO

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A mesma economia que foi preponderante para o possível impeachment da presidente Dilma Rousseff será vital para o fortalecimento do eventual governo de Michel Temer. Tudo indica que, a partir do segundo semestre, o país começará a receber notícias mais alentadoras no front econômico. As taxas de juros vão cair, a inflação perderá força, o número de demissões tenderá a ser menor mês a mês, ainda que a taxa de desemprego aumente, e os investimentos produtivos devem voltar a partir da reconstrução da confiança. A sensação de bem-estar que Dilma destruiu começará a dar as caras.

 

Esse era o quadro com o qual a presidente tanto sonhava para derrotar o impeachment. Integrantes da equipe econômica haviam garantido a ela que, caso o processo de impedimento se arrastasse por mais tempo, seria possível que o governo colhesse indicadores positivos na economia, que ajudariam a reverter o pessimismo. O relógio, porém, não foi favorável à petista. Ela ainda carrega no colo o peso de toda a herança maldita que acumulou nos últimos anos. Será lembrada na história como a presidente da recessão, da inflação alta e do desemprego.

 

A recuperação da economia, mesmo que na margem, uma vez que o estrago provocado pela presidente levará anos para ser consertado, tenderá a fortalecer a coalizão de partidos em torno de Temer. Não dá para dizer que o sentimento de melhora já estará explícito em outubro ou novembro, quando o Senado deverá votar o afastamento definitivo de Dilma, mas a perspectiva de se ver uma luz no horizonte deverá minar qualquer probabilidade de a petista retornar ao Palácio do Planalto. Esvaziará, ainda, as chances de o PT sair vitorioso nas urnas em 2018, como sonha o ex-presidente Lula.

 

Erros em série

 

A reunião de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom) é emblemática para mostrar como Dilma perdeu oportunidades importantes para tentar criar um ambiente menos hostil no país. Mesmo com o Brasil afundado na mais grave recessão em quase 100 anos, o Banco Central não pôde reduzir a taxa básica de juros (Selic), que ficou em 14,25% ao ano. A diretoria da instituição justificou que a inflação ainda está muito alta para se correr o risco de cortar a Selic. A custo de vida está nas alturas, rodando os 10% no acumulado de 12 meses, porque o governo foi leniente no combate ao aumento preços.

 

Dilma também poderia estar reduzindo os preços da gasolina e do diesel, já que o dólar está em baixa e as cotações do petróleo no mercado internacional desabaram. Não o fez devido à forte intervenção na Petrobras. Quando o valor dos combustíveis tinha que subir, por causa da forte valorização do petróleo no exterior, a presidente mandou a estatal segurá-lo de forma artificial. Não queria que os concorrentes na disputa à reeleição usassem o encarecimento da gasolina para atacá-la. Somente essa política equivocada de preços levou a Petrobras a acumular prejuízos de mais de R$ 60 bilhões. Agora, a empresa precisa que os combustíveis no país fiquem mais caros do que lá fora para refazer o caixa.

 

Sabotagem

 

Não dá para Dilma culpar ninguém pelo descompasso do tempo. Muito menos dizer que é golpe do destino. Desde que tomou posse, ela escolheu o caminho errado, cercou-se de pessoas incompetentes, acreditou que poderia inventar a roda na economia. Mesmo com a atividade afundando, as contas públicas entrando no vermelho e a dívida pública disparando, ela manteve a empáfia, tentando desqualificar os críticos e ignorar a realidade que se impunha.

 

A presidente já está encaixotando parte de suas coisas para transferi-las do Planalto para o Palácio da Alvorada, consciente de que o Senado aprovará o impeachment. Tomara que use o tempo disponível que terá nos próximos meses para refletir sobre o porquê de perder um mandato garantido por mais de 54 milhões de votos. Caso consiga se despir da arrogância, poderá chegar à triste conclusão de que ninguém prejudicou mais o seu governo do que ela.

 

Brasília, 08h30min