Dyogo botou Meirelles no bolso

Publicado em Economia

Todo mundo na Esplanada sabe que a relação entre os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, sempre foi protocolar. Tratam-se cordialmente, devido à liturgia dos cargos que ocupam, mas mantêm uma distância regulamentar.

 

A Esplanada também sabe que, se dependesse de Meirelles, Dyogo não seria o ministro do Planejamento. Tanto que, por um bom período, o chefe da Fazenda trabalhou para que o colega fosse defenestrado do cargo. Meirelles chegou a apresentar nomes para o presidente Michel Temer que seriam mais adequados para tocar uma pasta tão importante.

 

Em meio a essa guerra de poder, Dyogo ficou como ministro interino por quase um ano. Nesse período, porém, aproveitou-se de sua forte ligação com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que o antecedeu no Planejamento, para se aproximar do presidente Michel Temer.

 

Ciente da baixa popularidade do presidente e da ânsia por boas notícias na economia, Dyogo passou a apresentar ao chefe uma série de medidas que poderiam dar estímulos à atividade, incentivando o consumo das famílias. Várias dessas propostas foram bombardeadas pela Fazenda.

 

Vitórias

 

Aos poucos, no entanto, Temer foi comprando o discurso do ministro do Planejamento. E a primeira grande vitória dele foi a liberação para saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O sucesso da medida foi tão grande, que, a partir daquele momento, o presidente passou a ignorar as ressalvas de Meirelles.

 

Confirmado ministro, Dyogo intensificou o contato com Temer. Nos recentes debates sobre mudanças da meta fiscal, defendeu que os deficits deste ano e de 2018 fossem aumentados para R$ 159 bilhões. Meirelles refutou a ideia o quanto pôde, alegando que o governo perderia credibilidade no mercado. Acabou derrotado e teve que anunciar os rombos maiores.

 

Nesta quarta-feira, 22, outra ideia apresentada por Dyogo ao presidente acabou virando trunfo: a liberação, para idosos, de R$ 16 bilhões que estão depositados no PIS e no Pasep.

 

Discreto, com traquejo político incomum para um técnico de carreira, o ministro do Planejamento dobrou e botou no bolso Henrique Meirelles. O ministro da Fazenda continua se apresentando como o chefe da equipe econômica, mas, na verdade, quem vem dando as cartas é o ministro do Planejamento.

 

Brasília, 21h10min