Dólar dispara após fala de Guedes e bate novo recorde. BC reage

Compartilhe
ROSANA HESSEL

Ao afirmar ontem para investidores, em Washington, que o “dólar tende a ir para um lugar mais alto”, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu o sinal verde para a desvalorização do real frente à divisa norte-americana.  Assim que o mercado abriu nesta terça-feira (26/11), o dólar bateu novo recorde, chegando a subir 1%, negociado a R$ 4,26, nova maior cotação desde o Plano Real, obrigando o Banco Central (BC) a intervir no câmbio.

O BC anunciou hoje novo leilão, com lote mínimo de US$ 1 milhão, logo após a moeda norte-americana atingir novo pico. A assessoria não informou o valor total do leilão, mas, poucos minutos depois do anúncio da autoridade monetária, a cotação da divisa norte-americana tinha passado para R$ 4,24, reduzindo a alta em 0,4%.

Ontem, o Banco Central divulgou dados no saldo em conta-corrente que deixaram mercado preocupado porque a atividade econômica ainda não deu sinais de que saiu da UTI, apenas está respirando um pouquinho melhor sem a ajuda de aparelhos neste ano. O defict nas contas externas chegou a US$ 7,9 bilhões em outubro, acima do esperado dos cerca de US$ 6 bilhões e o maior desde 2014. No acumulado do ano, chegou a US$ 45,6 bilhões no acumulado no ano, o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.

Vamos ver como o mercado reage hoje ao longo do dia. Às 11h32, o Índice Bovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo (B3),  recuava 1% e estava em 107.299 pontos.

Polêmica

Após evento com investidores na capital dos Estados Unidos, Guedes deu uma entrevista longa a jornalistas e fez declarações polêmicas. Em uma delas, afirmou que as pessoas não devem ficar assustadas “se alguém pedir o AI-5” em resposta aos questionamentos sobre protestos contra as reformas tributária e administrativa. A fala do superministro do presidente Jair Bolsonaro está repercutindo muito mal hoje entre especialistas e cidadãos de bem que defendem a democracia no país que, apesar de imperfeita, é o melhor regime para um país.

“Não se falta em AI-5 nem contextualizando, nem hipoteticamente, talquei?”, escreveu a economista Elena Landau, responsável pelas privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso e fundadora do movimento Livres. Elena Landau é uma das convidadas do seminário “Correio Debate: Desafios para 2020”, que acontece hoje à tarde, em Brasília, na sede do
Correio Braziliense. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, encerrará o evento. Veja a programação.

Vale lembrar que hoje o Conselho de Ética da Câmara avalia as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defendendo o ato mais radical da ditadura, que cerceou os direitos dos brasileiros em 1968, abrindo espaço para que militares torturassem quem divergisse das opiniões do governo, principalmente, jornalistas e intelectuais. Muitos morreram naquela época e, até hoje, pais e mães de desaparecidos ainda não conseguiram localizar ou enterrar os corpos dos filhos. Que esse capítulo obscuro da nossa história não se repita.

Vicente Nunes