ROSANA HESSEL
A pandemia provocada pela covid-19 derrubou a economia global e, devido às medidas fiscais tomadas pelos governos para conter os efeitos da crise sanitária, o tombo acabou sendo menor do que o esperado. No Brasil não foi diferente, mas o custo dessa “melhora artificial” no desempenho da economia tem como consequência uma piora nas contas públicas e no aumento do endividamento já elevado do país. Essa piora no quadro fiscal está sendo refletido em um mais câmbio valorizado, conforme dados da MB Associados.
Segundo a entidade, se o país tivesse uma dívida menor e estável, o dólar poderia ficar abaixo de R$ 5, mas isso não deverá acontecer porque novos riscos apareceram com sinal de que poderá haver mudanças na política monetária dos Estados Unidos, após a divisão interna do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que é ruim para mercados emergentes.
Levantamento feito pelo economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, mostra que, devido às medidas adotadas durante esses dois anos de crise, a dívida pública bruta do país chegará a 92% do PIB em 2022, com um deficit primário acumulado nesse período de 16,5% do PIB. Como reflexo das medidas fiscais adotadas em 2020, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 4,1%, queda menor do que as previsões iniciais do mercado, que superaram 8% no começo da crise.
Pelos cálculos do economista da MB, o impacto da piora no quadro fiscal ajuda a elevar a taxa de câmbio, que tem apresentado um comportamento diferente no Brasil, porque a valorização do dólar ganhou um componente de risco relacionado à deterioração das contas públicas.
“Parece que a taxa de câmbio tem evoluído mais pelos prêmios de risco e pelo preço das commodities do que pelo diferencial de juros”, afirmou Vale. Conforme os cálculos feitos por ele, se a dívida pública bruta tivesse ficado estacionada em 77% do PIB desde o fim de 2019, o dólar, hoje, seria de R$ 4,71, “sinalizando o peso que o desarranjo da política fiscal tem sido para a dinâmica de câmbio”. “A taxa de câmbio está muito atrelada à evolução da dívida pública, que dará o tom da tendência do câmbio nos próximos anos”, afirmou.
Vale reconhece que, com o novo direcionamento da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), sinalizando, ontem, a retirada dos estímulos monetários que vai diminuir a liquidez global, e, com isso, adiciona um novo componente de risco para os mercados emergentes, no qual o Brasil está inserido. Logo, o impacto no câmbio poder será maior. “E isso já está acontecendo e é mais um elemento de pressão para o câmbio em 2022”, explicou. Para ele, dificilmente o dólar ficará abaixo de R$ devido a esses riscos presentes.
Conforme as projeções feitas por Vale e sua equipe na MB, o dólar seguirá valorizado neste ano e no próximo, encerrando dezembro cotado a R$ 5,40 e a R$ 5,60, respectivamente, conforme relatório divulgado por ele nesta quinta-feira (19/05). Recentemente, o economista revisou de 2,6% para 3,2% as projeções de crescimento do PIB deste ano.
Devido ao aumento do gasto público no ano passado no combate à pandemia, a dívida pública bruta do governo geral do Brasil subiu de passando de 74,3%,do PIB, em dezembro de 2019, para 89,1% do PIB, em dezembro de 2020, pelos cálculos do Banco Central. Esse patamar já é preocupante para um país emergente, pois a média dessas economias gira em torno de 60%, pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A MB refez as projeções do PIB dos estados e constatou que o agronegócio tem sido o principal motor dos estados com melhor desempenho no PIB dos últimos 10 anos. Mato Grosso, Piauí, Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul. As regiões com piores desempenhos do PIB foram o Sudeste e o Nordeste.