HAMILTON FERRARI
Com o dólar rondando os R$ 3,50 e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) sem fôlego para testar patamares maiores, analistas de mercado questionam o crescimento econômico, que ainda não engrenou de forma esperada. O diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, diz que é preciso questionar se houve avanços “efetivos e sustentáveis” na economia brasileira nos últimos anos. Na avaliação dele, apesar de o país ter saído da recessão em 2017, a renda e o consumo das famílias ainda não demonstram o aquecimento da economia.
“Indicadores recentes mostram desapontamento crescente com os indicadores da atividade econômica, deixando absolutamente transparente que a recuperação do emprego em termos efetivos é modestíssima”, alega. O especialista afirma, também, que a redução da taxa Selic, de 14,25% ao ano para 6,5% ao ano, não foi suficiente para derrubar os juros no sistema bancário. “Os juros das operações de crédito continuam travando a atividade. Os spreads bancários são incompatíveis com a nova realidade propagada pelo Banco Central.”
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, tem dito que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve diminuir a Selic em 0,25 ponto percentual na próxima reunião, em maio. Depois disso, a autoridade monetária planeja interromper o cortes.
Decepção
De acordo com Nehme, os fundamentos que embasam o crescimento ainda são “frágeis e vulneráveis” e não dão perspectivas positivas sobre o futuro da economia. Segundo apurou o Blog, o mercado espera uma expansão de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano, metade do que se falava há um mês. Os economistas revisaram para baixo as projeções depois de sinais negativos nos indicadores.
A produção industrial caiu 2,4% em janeiro e subiu levemente 0,2% em fevereiro. No mesmo período, o setor de serviços recuou 1,9% e se manteve estável praticamente estável (0,1%), respectivamente.
O próprio Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou que o crescimento econômico não está sendo como o esperado. Considerado a prévia do PIB, a taxa caiu 0,56% em janeiro e subiu 0,09% no mês seguinte
Fora isso, as contas públicas estão cada vez mais deterioradas. Por conta dos deficits consecutivos, a dívida bruta pública está aumentando e, segundo analistas, não deve parar de subir até 2021 ou 2022. Os mais otimistas acreditam que o endividamento pode chegar a 85% do PIB neste ano, enquanto outros contabilizam que passará de de 100% até 2021.
O Palácio do Planalto começou um trabalho intenso para conseguir cumprir em 2018 a chamada regra de ouro, legislação que impede o governo federal de emitir dívidas para pagar despesas correntes, como salários de servidores e aposentadoria. Serão necessários mais de R$ 203 bilhões neste ano para o Executivo não desrespeitar a norma.
A equipe econômica está se debruçando para encontrar recursos que ajudem no trabalho. O ministro do Planejamento, Esteves Colnago, e o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, agendam reuniões com os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) para conseguir o aval a fim de mexerem na verba do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel). A iniciativa pode render R$ 10,5 bilhões ao caixa federal.
Com indicadores demonstrando resultados ainda cambaleantes e cenário fiscal drástico, aliados às incertezas quanto a agenda de reformas para 2019, o mercado põe um pé atrás e questiona o crescimento econômico. O Banco Central espera expansão de 2,6% no PIB de 2018, enquanto o Ministério da Fazenda trabalha com alta de 3%.