ROSANA HESSEL
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro prefere destilar veneno contra jornalistas profissionais em vez de apresentar propostas para a retomada da economia, o dólar dispara e rompe uma nova barreira, de R$ 4,35. A divisa norte-americana segue em alta de 0,55% nesta terça-feira (18/02), em meio ao aumento das incertezas no mercado global e piora nas previsões para a economia brasileira. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) opera em queda de mais de 1%, acompanhando o mercado internacional cada vez mais frustrado com a perda da rentabilidade de empresas multinacionais devido ao coronavírus.
“Hoje o dólar está mais perto de R$ 4,50 do que dos R$ 4,10 que o mercado estava esperando para este ano. Vamos continuar pressionados por conta do aumento da aversão ao risco no mercado, que está reagindo com o avanço das preocupações com a queda na atividade global”, explicou Reginaldo Galhardo, gerente câmbio da Treviso Corretora.
Está se formando no mercado um consenso de que a tendência agora é de o dólar se valorizar diante das moedas de mercados emergentes em busca de segurança devido ao aumento da instabilidade global sobre o impacto econômico do coronavírus. “A desvalorização do real tende a continuar forte, porque o grande parceiro comercial do Brasil é a China, que está dando sinais de que a economia já está enfraquecendo e afetando outros países”, destacou. Ele citou como exemplo o Japão, que está registrando desaceleração por conta da falta de componentes chineses para as montadoras. Além disso, lembrou que empresas como a Apple, que também depende de componentes chineses, registram queda nas ações ao anunciar lucro menor.
“Tudo isso é muito ruim para o Brasil, porque a retomada da economia depende do setor externo e já tivemos um sinal de alerta que foi o resultado da balança comercial negativa em janeiro. Vamos ter que rezar para que isso acabe rápido”, alertou.
Vale a pena lembrar que as projeções de crescimento da economia brasileira em 2020 já estão descendo ladeira abaixo. Ontem, o Boletim Focus, do Banco Central, mostrou que a mediana das previsões dos economistas do mercado foi reduzida de 2,30%, na semana passada, para 2,23%, nesta semana. Segundo analistas, daqui para frente, vai ser difícil para o Produto Interno Bruto (PIB) conseguir crescer 2% neste ano. A falta de foco nas prioridades e o impasse na agenda econômica pós-reforma da Previdência é um dos motivos desse aumento no desalento que começa a dar sinais mais significativos em meio à desaceleração global.
“O importante é voltar a ter um crescimento parrudo para recuperar emprego e recuperar consumo e a economia voltar a andar e construir investimento de longo prazo sem percalços daqui para frente. Mas isso só vai acontecer se o governo conseguir avançar nas reformas. Sem elas, não adianta”, completou Galhardo.