Uma ocorrência policial registrada na 1ª DP de Brasília, sob o número 11.511/17, mostra que dois homens invadiram um apartamento de primeiro andar na quadra 305, da Asa Sul, uma das áreas mais nobres da capital federal, atrás de uma mala de dinheiro.
Eles entraram no prédio por volta das 11h30 da manhã de 13 de setembro, quando o porteiro liberou a entrada para uma pessoa que subiria para o 5º andar a fim de pegar uma doação para uma instituição de caridade. Como os dois homens, que já rondavam o edifício, não levantaram suspeitas, o porteiro não os interceptou.
Os dois homens tocaram a campainha do apartamento onde uma idosa mora sozinha. Pensando que fosse um dos filhos chegando para o almoço, abriu a porta sem pestanejar. Os dois homens entraram correndo, a empurraram e já foram perguntando onde estava o dinheiro.
A senhora, assustada, disse que o dinheiro estava na bolsa, que eles poderiam levar o que quisessem, telefone celular, computador. Mas os dois homens afirmaram que queriam o dinheiro, que ela não criasse dificuldades para entregar a mala. Indagaram ainda se havia mais gente no apartamento e se alguém poderia chegar a qualquer momento.
Para não despertar suspeitas, o homem mais jovem tratou de fechar todas as cortinas do apartamento. Feito isso, correu até a cozinha e pegou uma faca, com a qual ficou ameaçando a idosa. “Cale a boca”, dizia. O homem mais velho, bem vestido, foi, então, vasculhar os quartos (são três). Ele revirou todos os armários, tirou tudo de dentro, abriu todas as malas. Não encontrou nada.
Terceira pessoa
O tempo todo os dois homens perguntavam cadê a mala de dinheiro. A senhora dizia que não tinha mala nenhuma, que o único dinheiro que tinha, cerca de R$ 300, estava na bolsa dela. Depois de fuçarem tudo, o homem mais velho disse que prenderia a idosa no banheiro. Nesse momento, ele recebeu um telefonema. Questionado do outro lado da linha — acredita-se que uma terceira pessoa estaria do lado de fora do prédio aguardando por eles –, afirmou que não tinham encontrado nada. Que o endereço estava errado.
Como o trinco do banheiro estava com defeito, os homens não conseguiram prender a idosa. Mas eles ordenaram que ela só saísse de lá depois de cinco minutos. O mais velho perguntou se havia saída pelos fundos, e a senhora disse que sim. Antes de deixar o apartamento, depois de mais de 20 minutos lá, esse mesmo homem desligou o fogão. A senhora estava preparando o almoço. Eles só levaram a chave da porta dos fundos. E o mais novo enterrou a faca que usara para ameaçar a idosa em um vaso de planta.
Quando saiu do banheiro, certa de que os homens haviam deixado o apartamento, a senhora ligou para os filhos (um deles morava com ela até três dias antes da invasão) e contou tudo o que havia acontecido. Ela disse estranhar que, em nenhum momento, os homens fizeram questão de esconder os rostos. Isso indicaria que eles sabiam que, se pegassem a mala de dinheiro no endereço certo, não seriam denunciados. O dinheiro seria ilegal.
Retrato falado
Uma das filhas da senhora que teve o apartamento invadido ligou para um policial civil conhecido da família, que recomendou que a mãe fizesse o registro policial. Também orientou que a faca usada por um dos homens fosse encaminhada à polícia para que fossem colhidas as impressões digitais.
Apesar de todas as informações dadas pela senhora, que descreveu os homens (o mais velho tinha uma barba muito bem feita, usava uma camisa por dentro da calça jeans), a polícia não fez nenhum retrato falado. Isso, mesmo depois de a idosa insistir que seria capaz de descrever os dois homens. A polícia também não apresentou o resultado das digitais.
Enquanto isso, a família da idosa fica se perguntando o porquê do descaso policial. Mais que isso: suspeitam que há malas de dinheiro da corrupção espalhadas por apartamentos em Brasília. E que um grupo quer se apossar desses recursos, porque sabe que não haverá denúncia de assalto.
Brasília, 12h25min