O discurso é sempre o mesmo. “Não há nada que me ligue a malfeitos, como tantos outros por aí”, brada a presidente Dilma Rousseff. A tentativa de se apoiar na honestidade, no entanto, já não produz mais dividendos para a petista. Muito pelo contrário. Ao repetir tais palavras, ela só fica mais perecida com seu criador, o ex-presidente Lula, que nada via, nada sabia sobre o que acontecia ao seu redor. A corrupção está cada vez mais próxima de Dilma. Não há como dissociá-las.
Dia após dia, um novo nome ligado à presidente da República aparece na lista dos suspeitos de envolvimento no maior esquema de desvio de dinheiro público da história do país. Sabe-se que Dilma não é chegada a muitas pessoas. Tem um círculo muito restrito de auxiliares que entram e saem de seu gabinete. Pois são justamente esses eleitos que figuram nos depoimentos e delações feitos à Justiça. Não há como a petista dizer que essas pessoas também a traíram como fez o vice, Michel Temer, a quem ela acusa de querer lhe aplicar um golpe para apeá-la do poder.
Dos suspeitos de participarem do esquema criminoso financiado com recursos desviados da Petrobras, ninguém é mais próximo da presidente do que Giles Azevedo, seu assessor especial. Ele é acusado por Danielle Fonteles, dona da agência Pepper Interativa, de negociar, em nome do Palácio do Planalto, o pagamento de serviços relativos às campanhas da petista de 2010 e 2014 com dinheiro irregular movimentado por empreiteiras investigadas no âmbito da Operação Lava-Jato.
Em delação premiada, que ainda não foi homologada, Danielle afirma que Giles tratava pessoalmente das fontes de financiamento das campanhas, dinheiro que não foi contabilizado na prestação de contas de Dilma registrada no Superior Tribunal Eleitoral (TSE). Segundo a revista IstoÉ, a Pepper foi usada como uma espécie de lavandeira do PT, que irrigou várias campanhas de integrantes do partido. Somente entre 2013 e 2015, R$ 58,3 milhões passaram pelo caixa da empresa.
Caixa 2
Agora, sabe-se, também, que Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Dilma e de Lula, teria participado do esquema de corrupção para garantir a reeleição de Dilma em 2014 por meio de caixa 2. Presa pela Lava-Jato, Monica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, revelou que Mantega negociou com empresas beneficiadas pelo governo o repasse de R$ 10 milhões não declarados à Justiça para pagamento de serviços prestados à campanha da petista.
Conforme relato de Monica publicado pelo jornal O Globo, o ex-ministro lhe indicou, mais de uma vez, executivos de companhias para fazerem repasses ilegais. Os recursos não passaram pela contabilidade do PT. Foram direto para as contas da delatora e do marido dela. Todas as movimentações estão registradas em uma agenda que não foi apreendida pela Polícia Federal durante o processo de busca e apreensão nas empresas e nas casas de Monica e Santana.
Mantega foi, durante o primeiro mandato de Dilma, o ministro mais poderoso da Esplanda dos Ministérios. Nem Lula conseguiu tirá-lo do cargo, apesar das constantes tentativas de substituí-lo por Henrique Meirelles para dar uma cara nova ao governo. O ex-ministro foi o responsável, com o então secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, de maquiar as contas públicas e de criar as pedaladas fiscais, que estão na base do processo de impeachment de Dilma.
Juntos, Mantega e Augustin, com o aval de Dilma, promoveram uma farra tão grande de gastos com o intuito de reeleger a petista que quebraram o país. Somente em 2014 e 2105, provocaram um rombo nas finanças do país de mais de R$ 140 bilhões. A destruição nas contas públicas foi tamanha, que o deficit deste ano chegará a R$ 100 bilhões e, pelas projeções do mercado, o buraco poderá passar de R$ 120 bilhões em 2017 — o governo fala em saldo de negativo de R$ 65 bilhões.
Trânsito livre
O dedo podre de Dilma para escolher auxiliares e confidentes é impressionante. Antonio Palocci, que foi seu ministro da Casa Civil e um dos coordenadores da campanha de 2010, é citado em várias delações como beneficiário de dinheiro sujo. Também ex-ministra da Casa Civil, a encrencada Erenice Guerra aparece em denúncias de irregularidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o tribunal da Receita Federal, e em obras da usina de Belo Monte.
Governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel teve trânsito livre no Palácio do Planalto quando ministro do Desenvolvimento de Dilma. Ele foi indiciado no âmbito da Operação Acrônimo por organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pimentel, curiosamente, tem fortes ligações com a Pepper. Há indicações de que a empresa de Danielle Fonteles foi usada para lhe repassar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Dilma ainda teve, no seu círculo íntimo, o senador Delcídio do Amaral, que foi preso pela Lava-Jato. Ex-líder do governo, ele revelou, em delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que a presidente e Lula tentaram obstruir as investigações sobre corrupção na Petrobras e trabalharam nos bastidores para soltar empreiteiros presos, entre eles, Marcelo Odebrecht.
Com tantos amigos e auxiliares pegos em ilícitos, fica difícil para Dilma se fazer de vítima e injustiçada. Não à toa, a desconfiança em relação a ela é enorme. A petista, que discursa hoje na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, deveria fazer uma bela autocrítica sobre as relações nada abonadores que manteve. Atirar pedras é fácil. Isso, o partido dela, o PT, sabe fazer melhor do que ninguém.
Brasília, 8h30min