Em e-mail enviado à Associação e Sindicato dos Diplomatas e para mais de 30 colegas, o conselheiro do Itamaraty, diplomata Leonardo Lott Rodrigues, assume que deu um tapa na cara de uma mulher, mas assegura que “foi um tapa leve”. E que tomou essa atitude porque “ficou atônito com a insolência” da jovem, identificada como Uiára Cerqueira.
Ao longo do texto, o diplomata tenta transferir para a mulher a culpa por ele a ter agido de forma violenta. “Eu fiquei atônito com a insolência e a exagerada postura agressiva, até porque normalmente as pessoas evitam se comportar assim num acidente, que, reitero, foi provocado pela pessoa em questão. E, num segundo de descontrole, e contrariando meu temperamento e meu comportamento habitual, eu infelizmente dei-lhe um tapa no rosto, mas não com a violência alegada, pois nunca fui violento e não sei agir com violência”, afirma.
Lott Rodrigues vai além: “Não foi um ato premeditado, nem com intenção de ferir. Mas foi um erro, que eu deveria ter evitado chamando a polícia logo no início do incidente, até mesmo para eles testemunharem a agressividade e arrogância a mim dirigida”. Ele acrescenta ainda: “Estarei alerta para nunca mais permitir que a agressividade e arrogância de uma pessoa mal educada provoque em mim qualquer reação que volte a macular minha imagem e minha reputação”.
Procurado, o Itamaraty informou que ainda continua averiguando o caso e solicitou uma correção em relação às informações publicadas anteriormente e que haviam sido passadas ao Blog. “Cumpre informar que o Conselheiro Leonardo Lott Rodrigues não está lotado na Corregedoria do Ministério. A sua lotação atual é a Inspetoria do Serviço Exterior (unidade responsável pela análise operacional dos postos no exterior). A Inspetoria do Serviço Exterior não é a unidade responsável por apurar questões relativas à conduta de servidores”, informou o órgão.
“Venho me manifestar a propósito de relato que circula nas redes sociais sobre incidente envolvendo a minha pessoa. Sinto-me compelido a me dirigir ao Ministério das Relações Exteriores, instituição cujo nome respeito e pelo qual sempre zelei, e à qual dedico o melhor dos meus esforços pessoais e profissionais, para esclarecer aspectos do ocorrido que foram omitidos, ou exagerados, no relato a que me refiro.
Colegas e funcionários que já trabalharam comigo me conhecem como um homem gentil, correto e equilibrado, imagem que cultivei com afinco ao longo de 25 anos de trabalho, no Brasil e no exterior. Infelizmente, eu, que sempre sou calmo e controlado, que jamais tive incidentes ou participação em atos violentos, muito menos físicos, que nunca fui deliberadamente desagradável com ninguém, nem verbalmente e muito menos fisicamente, me vi de repente envolvido numa situação muito inusitada, que me deixou assustado, e ainda estou desconcertado com o que aconteceu.
Um acidente de trânsito sem gravidade, ocorrido por volta das 20h de 05/03/2019, nas imediações no Setor Comercial Sul, motivou o incidente. Contrariamente ao que diz o relato, o acidente não foi de minha responsabilidade, e uma perícia técnica facilmente poderá comprovar o fato. Por isso, e pelo fato da colisão ter sido leve, desci do meu carro com calma para resolver o assunto. Infelizmente para mim, a pessoa que conduzia o outro carro mostrou-se muito agressiva e já se aproximou me agredindo verbalmente, me acusando pelo ocorrido, me tratando de maneira muito imprópria dada a situação, até porque a polícia estava nas proximidades.
Essas agressões verbais, do tipo “você sabe com quem estava falando” foram disparadas quando a jovem motorista estava muito próxima de mim, de modo que só eu a ouvi. Eu fiquei atônito com a insolência e a exagerada postura agressiva, até porque normalmente as pessoas evitam se comportar assim num acidente, que, reitero, foi provocado pela pessoa em questão. E, num segundo de descontrole, e contrariando meu temperamento e meu comportamento habitual, eu infelizmente dei-lhe um tapa no rosto, mas não com a violência alegada, pois nunca fui violento e não sei agir com violência.
Não foi um ato premeditado, nem com intenção de ferir. Mas foi um erro, que eu deveria ter evitado chamando a polícia logo no início do incidente, até mesmo para eles testemunharem a agressividade e arrogância a mim dirigida. Minha reação infeliz se aproxima da surpresa de ser agredido verbalmente por uma pessoa tão jovem, que deveria ter algum respeito pelas pessoas mais velhas, sobretudo por alguém que tem idade para ser pai dela.
Sei que não estou no meu direito e que cometi um erro grave, do qual me arrependo e pelo qual me desculpo. Sou responsável pelos meus atos e responderei pelo meu erro perante a justiça. Sou um homem íntegro, razão pela qual responderia pelo meu erro mesmo se eu não fosse diplomata e o incidente não tivesse tido nenhuma repercussão mediática.
Busco apenas me redimir perante amigos, colegas e funcionários com quem já trabalhei, especialmente as do sexo feminino. Tenho certeza de que todas as mulheres que trabalharam comigo se lembram de mim como um homem que sempre as tratou com consideração, carinho e respeito. A elas prometo que esse episódio, que tanto me entristeceu, não mais se repetirá, pois tratou-se de uma falta de controle diante de uma agressão inesperada. Estarei alerta para nunca mais permitir que a agressividade e arrogância de uma pessoa mal educada provoque em mim qualquer reação que volte a macular minha imagem e minha reputação.”
Brasília, 12h54min