Detran: falta transparência, sobram multas

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SEVERINO GOES*

O Departamento de Trânsito não nega sua origem, a de costela de órgão policial. Claro que deve ter funções de preservar a obediência às leis do trânsito, mas esquece de sua função educativa para que todos tenhamos um trânsito melhor.

Recentemente, desembarquei de um voo na Base Aérea, à tarde, e me dirigi ao meu local de trabalho no meu próprio carro. Ao entrar na via N2, próximo ao Palácio do Planalto, fui parado por um guarda de trânsito, que pilotava uma moto e estava acompanhado de outros dois. Todos ocupados em parar carros, vistoriar documentos e porta-malas. Até aí, tudo bem.

No meu caso, fui advertido que minha placa estaria com letras e números apagados. Perguntei o que fazer. Resposta do diligente guarda: “Seu carro está apreendido. Leve ao depósito do Detran e, depois de pagar as taxas, pode retirar o mesmo”. Assim, nessa linguagem típica de quartéis. O que é o mesmo?

O mesmo é que o Detran ou órgãos que devem controlar o trânsito instruem seus agentes a serem intolerantes, fruto da mentalidade policial que domina a corporação. O cidadão está errado, pau nele. No meu caso, não considero um erro andar com a placa do carro com a tinta falha em alguns números e letras.

Em que isso coloca em risco os demais motoristas ou pedestres? Mas, não. Recolha-se o carro, paguem-se as taxas e depois vemos o que fazer. Tentei argumentar que precisava trabalhar e que recolher o carro era um atitude totalmente desnecessária.

A expedição punitiva não parou aí. O guarda que me reteve exigiu que eu levasse meu carro ao depósito do Detran. Me recusei, dizendo que, se o Detran acha que eu cometi uma infração grave, que o fizesse. Deixei a chave e o carro porque precisava trabalhar.

No dia seguinte, fui ao depósito do Detran, localizado perto do que um dia foi o Autódromo de Brasília. Lá, os cidadãos são informados de que não existe atendimento prioritário, mesmo tendo eu mais de 60 anos. E mais: existe um simulacro de posto de atendimento de um banco estatal, mas que não funciona! Ou seja, para liberar meu carro tive que sair das dependências do tal depósito, entrar numa fila de banco, pagar as taxas e voltar. Resultado: perdi a manhã toda nisso.

Pago meus impostos em dia, não tenho qualquer dívida com o Detran e, como cidadão, exijo que o órgão que controla (?) o trânsito seja mais transparente: para onde vai o dinheiro das escorchantes multas que aplica em pardais, em blitzes, etc.? Vejam o estado das pistas do DF, péssimas; vejam as placas de sinalização, danificadas; vejam as faixas de pedestres, apagadas.

Está nora de o Detran deixar seu lado policial de lado e prestar contas à sociedade sobre o dinheiro que arrecada.

* Jornalista, cidadão que paga seus impostos em dia, inclusive as multas do Detran.

Brasília, 13h46min

Vicente Nunes