DESTRUIÇÃO EM MASSA

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A presidente Dilma Rousseff vai sangrar muito até que o Congresso decida sobre a rejeição das contas do governo de 2014, proposta pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Essa hemorragia, porém, custará muito caro ao país. Se a economia está em frangalhos hoje, ficará ainda pior com a indefinição sobre os rumos a serem tomados pela petista.

O impeachment tornou-se mais real do que nunca. Mas, até que se tenha uma posição concreta sobre ele — favorável ou não a Dilma — a economia real, a da produção e do trabalho, ficará no limbo. Não haverá clima para decisão de grandes negócios. A paralisia da atividade será paga pelo lado mais fraco da moeda, o dos trabalhadores.

Para se ter uma ideia do que pode acontecer, basta olhar para a situação atual da construção civil, setor vital para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Desde que o nível da atividade começou a desacelerar, uma onda de demissões se abateu sobre as empresas. A expectativa é de que pelo menos 500 mil trabalhadores formais sejam despedidos em 2015, o que representa 17% da mão de obra empregada pelas construtoras.

Isso significa dizer que 500 mil famílias, na melhor das hipóteses, ficarão sem os rendimentos de um de seus integrantes. Levando-se em conta que cada residência tem quatro pessoas, em média, 2 milhões de brasileiros serão atingidos pelo fechamento de postos com carteira assinada nos canteiros de obras.

Pelos cálculos do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, esse meio milhão de trabalhadores deixarão de embolsar R$ 8,8 bilhões em salários ao longo de um ano, considerando um rendimento médio mensal de R$ 1.472,67. Trata-se de um baque e tanto para o consumo.

Mas não é só. Também o governo perderá. E justamente em uma área problemática, a Previdência Social, cujos rombos no caixa são crescentes. Os demitidos deixarão de contribuir com R$ 2,74 bilhões ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ressalte-se: esse prejuízo será apenas com os dispensados da construção civil. Imagine esse cálculo ampliado com todos os trabalhadores vitimados pela crise.

O quadro fica mais assustador porque a maior parte dos demitidos dos canteiros de obras não têm grande qualificação. A primeira opção deles será migrar para a informalidade. O problema é que até os empregos informais na construção estão diminuindo. São pouquíssimas as obras em andamento hoje no país.

Descontrole

O retrato cruel da construção civil decorre do acúmulo de erros cometidos por Dilma nos últimos anos. Ao destruir as contas públicas, o governo foi obrigado a pisar no freio dos gastos. Os projetos de infraestrutura, também contaminados pela descoberta de um monstruoso esquema de corrupção na Petrobras, praticamente pararam. As obras do Minha Casa Minha Vida estão em ritmo de cágado, porque o Tesouro Nacional deu calote de mais de R$ 1,5 bilhão nas construtoras.

A construção foi afetada ainda pela onda de incertezas espalhada pelo Palácio do Planalto. O descontrole fiscal pressionou a inflação, que corroeu o poder de compra das famílias. Na esteira da alta do custo de vida, as taxas de juros dispararam e o crédito imobiliário secou. Ameaçadas pelo desemprego, as famílias suspenderam a compra de imóveis. Não há como encarar financiamentos por 25, 30 anos, sem a certeza de que haverá dinheiro para honrar as prestações.

Certamente, esse quadro dramático da construção e de toda a economia não teria se materializado se Dilma não tivesse feito tantas estripulias. Auxiliada pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, a presidente adotou o que chamou de nova matriz econômica, uma loucura baseada da visão de que o Estado poderia fazer tudo e de que um pouco mais de inflação ajudaria a incrementar o crescimento econômico. Tudo, é claro, acompanhado por manobras contábeis e pedaladas fiscais condenadas pelo TCU.

Como diz o presidente da Cbic, se Dilma tivesse aplicado, no primeiro mandato, o remédio adequado, ou seja, um ajuste fiscal consistente, o país não estaria de joelhos. Haveria algum impacto negativo, mas não teríamos que lidar com contração do PIB por dois anos seguidos, desemprego caminhando para 10% e inflação de dois dígitos. Hoje, não se teria índices robustos de crescimento, mas o Brasil teria preservado empregos e o horizonte não estaria tão turvado.

Como um zumbi

» Ontem, Dilma reuniu seu ministério para tentar tirar a corda do pescoço. Cobrou ajuda. Mas de nada adiantará o apelo. A sentença já está dada. Mesmo que consiga se arrastar até 2018, será um zumbi. E de nada adiantará jogar a culpa nos inimigos, acusá-los de golpe. Foi ela quem pavimentou todo o caminho percorrido até agora.

Reza para não largar o osso

» O clima no Palácio do Planalto está tão ruim que muitos companheiros que se agarram com todas as forças aos cargos comissionados do cabide construído pelo PT já estão fazendo promessas para que Dilma resista. Se ela cair, terão que dar adeus à boa vida que vêm usufruindo há mais de uma década. Ninguém quer largar o osso.

Brasília, 09h10min

Vicente Nunes