DESRESPEITO

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Esperava-se que, por consideração, a presidente Dilma Rousseff agisse rapidamente para tirar seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, da praça pública em que ele vem sendo humilhado diariamente. A expectativa, sobretudo entre os subordinados do chefe da equipe econômica, era de que a petista desse um basta no bombardeio disparado pelo ex-presidente Lula, que praticamente nomeou Henrique Meirelles para o cargo mais importante da Esplanada dos Ministérios. Dilma, porém, optou pelo silêncio. E a legitimidade de Levy derreteu mais um pouco — se é que não se esvaiu por completo.

 

O desprestígio de Levy está tão grande que, para mostrar que continua firme no posto, ele se submeteu ao constrangimento de ter de encarar Meirelles, almoçar com ele e ouvir as lições do ex-presidente do Banco Central sobre economia sem a garantia de Dilma de que não há qualquer possibilidade de ela substituí-lo seja por quem for. O ministro manteve a fleuma, mas, no seu entorno, não se falou outra coisa a não ser que ele está com os dias contados.

 

Levy e Meirelles participaram, como palestrantes, de um seminário promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Enquanto o ministro levou um sermão do presidente da entidade, Robson Andrade, que criticou duramente a proposta do governo de recriar a CPMF e ressaltou que a atual política econômica não é a que o país precisa e deseja, Meirelles foi tratado como celebridade, como se já estivesse nomeado para ser a pessoa que a indústria necessita, “alguém que mostre que o Brasil tem uma política econômica suficientemente boa para permitir o crescimento do país”.

 

Fim de festa

 

A percepção, na Fazenda e em boa parte do governo, é de que a festa acabou para Levy. A partir de agora, ele se tornou ministro dele próprio, pois não se vê nenhum comprometimento do Palácio do Planalto com o prometido ajuste fiscal. Dilma ainda não bateu o martelo sobre a substituição do subordinado porque ainda precisa dele para dar um ar de seriedade no governo e se convencer de que o que Lula e o PT pregam é o melhor a ser feito.

 

Os poucos que ainda defendem a permanência do ministro no cargo alegam que, ruim com ele, pior sem ele. Dizem que se o governo conseguir aprovar uma agenda mínima do Congresso e se livrar do tormento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que está com o mandato ameaçado, poderá pavimentar uma trilha menos tortuosa até 2018 sem que Dilma seja obrigada a se tornar uma rainha da Inglaterra, com Lula dando as cartas.

 

Por mais que Levy não seja homem de confiança da presidente, ela reconhece que ele tem boas intenções. O problema é que o ministro chegou com tanta sede de poder, acreditando ser um super-homem e que seria capaz de fazer valer suas ideias, que acabou metendo os pés pelas mãos, sobretudo por não ter conquistado a confiança da base aliada, que tem os votos necessários para tornar o ajuste fiscal realidade.

 

Culpa

 

Apesar de posar de vítima, não se pode esquecer de que Levy é responsável por boa parte da humilhação que vem enfrentando. No mesmo dia em que o governo decidiu enviar ao Congresso a proposta de Orçamento de 2016 com deficit de R$ 30,5 bilhões, da qual foi contra, ele deveria ter entregue a carta de demissão. Como não o fez, perdeu, por completo, o respeito. Todos passaram a vê-lo como um ministro fraco, que se submeteria a qualquer coisa para continuar no poder.

 

E não adianta usar o velho discurso de que se está fazendo tudo em nome do desejo de um Brasil melhor. Levy gosta da pompa que o ministério lhe dá. Tanto gosta que usa as agências de classificação de risco para mostrar o que pode ocorrer com o país se ele deixar a Esplanada — explosão do dólar e derretimento da bolsa de valores. Mas, agora, nem mesmo o discurso do medo funcionará. Os investidores compraram a possibilidade de Meirelles ir para a Fazenda. O dólar e os juros desabaram e a bolsa disparou assim que o ex-presidente do BC disse apoiar um ajuste fiscal completo.

 

A situação se tornou tão surreal que não é mais o titular da Fazenda quem mexe com o mercado financeiro, mas, sim, seu possível sucessor, o escolhido por Lula para resgatar a credibilidade, retomar o crescimento, garantir a continuidade do mandato de Dilma e tirar o PT da lama nas eleições. Essa missão foi bem parecida com a que Dilma entregou a Levy assim que o convidou para integrar o governo. Passado quase um ano, ele fracassou por completo. E nada indica que será diferente com Meirelles.

 

Crédito e confiança

 

» Técnicos do governo não veem como totalmente descabida a proposta de Lula de se incrementar o crédito como fonte de estímulo ao Produto Interno Bruto (PIB). Mas não será com Dilma Rousseff que a demanda por empréstimos e financiamentos vai destravar. Fazer dívida exige confiança em relação ao futuro, que, com a petista, desapareceu por completo.

 

Ajuda ao BC

 

» Para o Banco Central, a falta de interesse por crédito tem sido um importante contraponto à inflação. Os preços de todos os produtos que dependem de financiamento para a venda, como carros, móveis e eletrodomésticos, estão com os preços em queda ou com pequena alta. Portanto, dizem especialistas, não há porque mexer nesse vespeiro agora.

 

Irritação de Barbosa

 

» Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, não esconde a irritação quando ouve comentários de que o mercado financeiro jamais o aceitaria como sucessor de Joaquim Levy na Fazenda. Acredita que há um movimento orquestrado para desaboná-lo. Ele se acha o melhor economista da Esplanada, pronto para qualquer empreitada no governo.

 

Brasília, 08h30min