ROSANA HESSEL
Dados do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta sexta-feira (6/5), mostram aumento assustador do desmatamento na Amazônia, que segue desenfreado e alcançou níveis alarmantes, batendo novos recordes, de acordo com o Greenpeace Brasil.
Conforme dados do Inpe, entre os dias 1º e 29 de abril, os alertas apontam para um total de 1.013 km² de áreas desmatadas, dado 74,6% superior ao registrado no mesmo mês de 2021. É o pior resultado da série histórica, iniciada em 2004, quando foi criado o Deter.
O total de área desmatada equivale a 138.957* campos de futebol “padrão Fifa” para competições internacionais, de acordo com organização não-governamental (ONG). A entidade destacou que, pelo quarto mês consecutivo, os alertas de desmatamento seguem concentrados nos estados do Amazonas (34,2%), Pará (28,3%) e Mato Grosso (23,8%).
“A fragilização dos órgãos de fiscalização ambiental, não é por acaso, é um projeto perverso que tem como um dos principais resultados, a prescrição de crimes ambientais sem que os criminosos sejam punidos. Com a certeza da impunidade, o que já está ruim tende a piorar caso projetos de leis que visam legalizar a grilagem de terras, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir Terras Indígenas para mineração sejam aprovados na Câmara e no Senado”, disse o coordenador de Amazônia do Greenpeace Brasil, André Freitas, em nota divulgada pela entidade. “É preciso de uma vez por todas frear este mecanismo que vem sucateando os órgãos públicos e investir em fiscalização ambiental se quisermos realmente manter a maior floresta tropical do mundo em pé”, acrescentou.
Vale lembrar que, na recente divulgação do Global Forest Watch, o Brasil aparece como responsável pela perda de 40% do total de florestas tropicais no mundo em 2021. “Com isso, o Brasil segue ganhando títulos desonrosos que acabam por contribuir negativamente para a contenção da crise climática e, ao mesmo tempo, passa uma clara mensagem a qual o governo tenta negar: o Brasil não tem ação estratégica alguma para conter o desmatamento em curso”, destacou o Greenpeace, que reforçou a necessidade de ações de comando e controle para promover o estancamento imediato da sangria do desmatamento e a manutenção dos direitos humanos.
“Mas para além disso, são necessárias ações coordenadas dos órgãos públicos nas três esferas e uma discussão séria e imprescindível sobre uma transição de modelo de desenvolvimento que perceba atividades capazes de conviver de forma harmônica com a floresta em pé”, complementou Freitas.
A entidade também fez um alerta contra o Projeto de Lei 2374/2020, de autoria do Senador Irajá Abreu (PSD/TO), que, ontem, foi inserido na pauta da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal, em caráter terminativo. “Se aprovado, concederá anistia àqueles que desmataram ilegalmente áreas de Reserva Legal entre julho de 2008 e maio de 2012. Sem que houvesse audiência pública ou apreciação por outras comissões, como a de Meio Ambiente (CMA) do Senado, o projeto é um benefício aos criminosos, além de ser um estímulo a novas invasões de áreas e enfraquecer a implementação do Código Florestal nos estados”, alertou o Greenpeace, em nota à imprensa. Por falta de quórum na reunião da CRA, o PL não pôde ser votado, mas há expectativa de que retorne à pauta nas próximas semanas.
Os alertas do sistema Deter mostram ainda que o maior polígono detectado de desmatamento ocorreu em Altamira, no Pará, com 1.358 hectares. O segundo maior, com 1.337 hectares, está localizado em Lábrea, no Amazonas. Os municípios de Altamira e Lábrea ocupam juntos o quarto lugar de maiores desmatamentos contínuos.
*o valor foi corrigido
Veja o histórico do desmatamento conforme dados do Inpe: