DESMANCHE DO PAÍS

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O primeiro trimestre do ano termina hoje com um saldo melancólico. Com o país atolado na mais grave crise política da história, tudo indica que o Produto Interno Bruto (PIB) registrou queda entre 1% e 1,5% no período ante os últimos três meses de 2015, quando a retração já havia sido de quase 2%. Não há perspectivas de que o derretimento da atividade esteja chegando ao fim. A desconfiança em relação ao governo e ao futuro do país é enorme.

No comércio, o discurso embute um tom de desespero. Os lojistas só falam em demissões. Os clientes desapareceram. O faturamento caiu a um terço, na média, ante o registrado no primeiro trimestre do ano passado. Vários comerciantes já estipularam um prazo: ou a clientela volta nos próximos três meses, ou terão que fechar os pontos de vendas. Nem mesmo as datas festivas os fazem acreditar em recuperação. Preveem o pior Dia das Mães em mais de uma década.

Na indústria não é diferente. Os estoques estão elevadíssimos e não há perspectivas de elevação das encomendas. Turnos de produção estão sendo cortados. No caso em que as fábricas só estão operando em período único, o enxugamento está se dando por meio de pessoal, ou seja, demissões. Somente os produtores de máquinas e equipamentos fecharam 13 mil postos em fevereiro. No acumulado dos dois primeiros meses do ano, as receitas desse segmento desabaram 28,7%.

O setor de máquinas e equipamentos é emblemático. Se ele vai mal, significa que os investimentos produtivos, que poderiam ampliar os empregos e a renda dos trabalhadores, estão em retração. Os empresários preferem operar com a estrutura que têm, por não acreditarem que, mais à frente, terão para quem vender seus produtos. Sem investimentos, que estão em queda há mais de três anos, o país está comprometendo o futuro, reduzindo a capacidade de reação quando a crise política amainar e a credibilidade nos governantes voltar.

Fuga de capitais

Não à toa, o termo depressão voltou a circular com força entre os economistas. Eles acreditam que, quanto mais o Congresso demorar para definir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mais rapidamente o Brasil irá para o buraco. A situação tende a ser a pior possível se a petista for mantida no poder. Não haverá reformas nem aprovação de medidas fiscais que poderiam dar algum tipo de alento. Na visão do economista-chefe da INVX Partners, Eduardo Velho, se, com o PMDB na base aliada, nada andava, não há como esperar vitórias do Planalto a partir de agora.

Ele acredita que o país pode enfrentar, com a derrota do impeachment, fuga maciça de recursos, uma vez que os investidores estão apostando todas as fichas na interrupção do mandato de Dilma. Isso resultaria em disparada do dólar, derretimento da bolsa de valores, aumento da inflação, restrições ainda maiores no crédito. Não se trata de terrorismo. O problema é que os agentes econômicos não veem mais condições no governo petista de dar um novo rumo ao Brasil.

“Ninguém espera que, com o vice-presidente, Michel Temer, assumindo o governo em caso de impeachment haja grande melhora na situação do país. Mas está claro que, com a continuidade de Dilma no poder, o que já está ruim na economia vai piorar”, diz Velho. Para ele, a presidente não terá condições de fazer um governo de coalização que restabeleça as pontes necessárias para o resgate da atividade. “Com Dilma, vamos ver o desemprego atingindo níveis alarmantes. Isso ficará claro a partir de abril. O segundo trimestre do ano será dramático para os trabalhadores”, acrescenta.

Falsa impressão

O governo acredita que ainda pode dobrar os empresários no caso de derrubada do impeachment. O entendimento no Planalto é de que não haverá espaço para confronto, uma vez que é interesse de todos que a economia saia do fundo do poço. Assessores próximos a Dilma dizem que aos agentes econômicos estão mais interessados em lucros e não vão esperar até 2018, quando, teoricamente, termina o mandato da petista, para retomar os negócios. “Independentemente da decisão do Congresso, o que o empresariado quer é um governo respaldado para continuar no poder. E o Congresso vai nos dar isso”, ressalta um interlocutor da presidente da República. “Estamos falando de pragmatismo”, enfatiza.

A aposta principal dos empresários, porém, é de derrota de Dilma no Congresso. Para eles, o afastamento da presidente é irreversível, mesmo que, num primeiro momento, partidos com o PP se mantenham na base aliada dando a impressão que a petista garantirá os 172 votos que precisa para se livrar do processo que tramita na Câmara. Mas a pressão das ruas será tão grande que a maioria dos deputados acabará por apoiar o impeachment. “O governo está em estado terminal. Logo veremos os aparelhos serem desligados”, frisa um executivo do setor siderúrgico. A contagem regressiva começou.

Brasília, 00h08min

Vicente Nunes