DESCOMPROMISSO COM A NAÇÃO

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Enquanto a presidente Dilma Rousseff dedica todo seu tempo para tentar enterrar o processo de impeachment, o Brasil afunda. As projeções da equipe econômica e de analistas privados mostram um país à deriva, como um trem desgovernado, sem que nenhuma voz sensata tome a iniciativa de evitar o desastre. Muito pelo contrário. Se há algo que o governo pode fazer para piorar as coisas, fará. A população que aguente o tranco.

 

Como bem ressalta um dos técnicos mais conceituados do governo, o Brasil está sem comando há anos. O que se apresenta como responsável pela gestão do país é, na verdade, um projeto de poder que está disposto a qualquer coisa para manter as benesses do setor público. Não há escrúpulos. Tanto que, mesmo estando sob ataque, acusada de cometer crime de responsabilidade fiscal, Dilma não se furta em transformar o Palácio do Planalto em um palanque para sua defesa.

 

O desgoverno é tal, que nenhum analista de mercado acredita mais na capacidade de Dilma, caso ela continue no cargo, de aprovar medidas que possam minimizar o descalabro fiscal. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, encaminhou ao Ministério da Fazenda suas projeções para as contas públicas. A piora nas estimativas é impressionante. Não há perspectiva de reversão no rombo das finanças do governo até 2018.

 

Pelos cálculos de Perfeito, o deficit primário deste ano será de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em vez do 1,5% projetado um mês atrás. Para 2017, o buraco saltou de 0,7% para 1% e, para 2018, de 0,01% para 0,35%. “Ao incorporar a persistência da crise política, alguns pressupostos tiveram que ser alterados”, diz. No entender dele, a aprovação de medidas que poderiam beneficiar o caixa, como o aumento de impostos e o corte de gastos, por meio da reforma da Previdência, sumiram do radar.

 

O mais preocupante, destaca o economista da Gradual, é que, mesmo com Dilma fora do poder, não há como esperar mudanças significativas no quadro fiscal. O rombo é tão grande, que, se o eventual substituto da petista optasse por fazer um ajuste rápido, quebraria de vez o país. Tudo ficaria parado: saúde, educação, programas sociais. Portanto, o máximo que se pode esperar, caso o impeachment seja aprovado na Câmara dos Deputados, é que o sucessor, que pode ser o vice-presidente, Michel Temer, tenha a confiança dos agentes econômicas de que, em algum momento, as contas públicas sairão do vermelho.

 

Brasília, 8h30min