A forma como vem conduzindo a escolha do futuro presidente da Petrobras dá a exata dimensão do descaso do governo com os acionistas da estatal. Mesmo com o Tesouro Nacional sendo dono de apenas 40% do capital social da companhia, em nenhum momento o Palácio do Planalto preocupou-se em convocar os grandes detentores de ações da empresa para ouvir sugestões sobre a substituição de Graça Foster e dos cinco diretores que renunciaram aos cargos.
“A impressão é de que o Estado é dono de 100% da companhia e não deve prestar contas a ninguém. Não é bem assim. É somente o controlador”, afirma um dos principais acionistas minoritários da Petrobras. Para ele, o governo não pode se lembrar dos demais sócios da petroleira apenas quando precisa de dinheiro. “É importante nos ouvir também quando há problemas. O interesse de todos é de preservar a companhia. Ninguém quer ver o seu patrimônio virar pó, como está ocorrendo”, acrescenta.
A maior queixa em relação ao descaso do governo vem dos acionistas estrangeiros da Petrobras, que, juntos, detêm a mesma quantidade do capital social da estatal que está nas mãos do Tesouro Nacional — 40%. Muitos compraram ações da empresa acreditando no discurso governamental de que a petroleira seria uma potência nos próximos anos, devido à descoberta das reservas do pré-sal.
O que se descobriu, porém, foi uma companhia mal administrada, rateada entre partidos políticos, tragada pela corrupção e com sua maior promessa correndo risco de ficar nas profundezas do mar por inviabilidade na exploração. Com o preço do barril de petróleo abaixo de US$ 50, não há como viabilizar o pré-sal. “Não à toa, vários estrangeiros entraram na Justiça dos Estados Unidos alegando terem sido enganados”, reconhece um técnico da equipe econômica.
Também os fundos de pensão e os bancos que administram fundo de ações da Petrobras reclamam da postura do governo. Assinalam que, se realmente quisesse salvar a estatal, a presidente Dilma teria optado por um pacto com os acionistas, no sentido de construir um processo de governança que realmente resgatasse a credibilidade da companhia. “Com certeza, os acionistas teriam ótimas dicas a dar ao governo, inclusive nomes respeitados para limpar a Petrobras”, diz um executivo de banco.
A sensação entre os acionistas minoritários é de que, independentemente da pessoa escolhida para comandar a petroleira, as perspectivas para a empresa não são as melhores. O preço do petróleo caiu, prejudicando vários projetos, o pré-sal ganhou importantes concorrentes, como o gás de xisto nos Estados Unidos, e o plano de negócios está fora da realidade. “A situação da Petrobras ainda vai piorar muito. A empresa está consumida pela roubalheira, que continuou correndo solta mesmo depois do início da Operação Lava-Jato. Uma pena”, frisa um respeitado funcionário público.
Estranheza na Esplanada
Causou surpresa no governo a saída de Carlos Hamilton Araújo da diretoria de Política Econômica do Banco Central. Não era segredo para ninguém que o desligamento dele era questão de tempo. Mas ninguém esperava que o técnico que mais pregava o combate à inflação fosse substituído um dia antes de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrar que o custo de vida atingiu um nível alarmante. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro deve cravar 1,24%, o pior resultado desde fevereiro de 2003. Em 12 meses, a taxa ficará bem acima de 7%.
Para evitar ruídos, o BC tratou de difundir a visão de que tanto o substituto de Hamilton, Luiz Awazu Pereira, quanto o novo diretor da Assuntos Internacionais, Tony Volpon, são extremamente rígidos quando o tema é inflação. E estão imbuídos da missão de levar o IPCA para o centro da meta, de 4,5%, ao longo de 2016.
Embate ideológico
» Carlos Hamilton vinha negociando deixar o Banco Central há mais de um ano. Mas sempre foi convencido pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, a ficar no cargo como forma de mostrar unidade na diretoria. O discurso de Hamilton sobre a necessidade de manter a inflação sob controle nunca foi bem-visto no Palácio do Planalto.
Por enquanto, férias
» Assim que deixar o Banco Central, Carlos Hamilton entrará em férias. Diz que pretende descansar, depois de cinco anos comandando a principal diretoria da autoridade monetária. Com o tempo, decidirá o futuro. Se quiser migrar para a iniciativa privada, terá que pedir demissão oficial do BC, onde é técnico de carreira. Não faltarão convites. Tempos atrás, foi sondado pelo Itaú Unibanco.
Rumo dos juros
» Assim que as mudanças na diretoria do BC foram anunciadas, o mercado passou a apostar, com maior vigor, que o Comitê de Política Monetária encerrará o aumento da taxa básica de juros em março, com uma última alta de 0,25 ponto percentual, para 12,50%.
Desemprego chegando
» Não está fácil a vida dos brasileiros. A cada dia, surpreendem-se com uma notícia ruim por parte do governo, sobretudo quando o assunto é energia elétrica. Mas o pior está por vir: o desemprego. Técnicos da equipe econômica admitem que o aumento das demissões nos próximos meses é inevitável.
Brasília, 00h01min