DESASTRE IMINENTE

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A presidente Dilma Rousseff pagará caro pelo desastre que foi seu primeiro mandato. Os próximos meses serão recheados de notícias ruins, que vão balançar — e muito — a estrutura do Palácio do Planalto. E não  adiantará a chefe do Executivo dizer que não sabia de nada ou que o Brasil está sendo vítima das circunstâncias. A culpa por todos os males será dela, de Dilma Rousseff.

Todos os indicadores de janeiro mostram que o país está mergulhando na recessão. Pelas projeções que circulam dentro do governo e no mercado financeiro, haverá contração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro e no segundo trimestres de 2015, com grande chance de também o terceiro registrar queda. Mesmo assim, a inflação se manterá na casa dos 7% até o fim do ano, destruindo o poder de compra das famílias.

Diante desse quadro recessivo, a expectativa é de que o desemprego volte a subir e a renda do trabalho, que já recuou 1,8% em dezembro último, seja solapada pela inflação. Empresários do comércio argumentam que não haverá como segurar as demissões, pois estão com a língua de fora. As vendas neste início de ano foram péssimas e não há perspectiva de recuperação tão cedo. Com o forte aumento das tarifas públicas e a alta de impostos, a tendência é de que os consumidores reduzam a demanda, contribuindo para o fechamento de vagas nas lojas.

O comércio se juntará à indústria, que vem demitindo sistematicamente há pelo menos dois anos. As fábricas, na maioria dos segmentos, estão operando com alto índice de ociosidade. Para reduzir custos, as empresas que não fecham postos de trabalho têm dado férias coletivas ou negociado a redução parcial de salários.

Havia a expectativa de que, com o dólar mais alto, a indústria ganhasse fôlego por meio das exportações. Mas, em vez de ampliar as vendas ao exterior, o país perde mercado. “Não estamos conseguindo exportar como gostaríamos e só vemos a demanda interna cair. O consumo das famílias está fraco e os investimentos produtivos despencaram”, ressalta um industrial.

As perspectivas são de piora substancial, devido ao iminente racionamento de energia e água. O governo já trabalha com essa hipótese a partir de abril, quando termina o período chuvoso. Sem água e sem energia, a queda do PIB, estimada em 0,5%, pode ficar entre 1,5% e 2%. Se confirmada, será uma retração sem precedentes em pelo menos três décadas. Nesse contexto, não há como evitar o aumento do desemprego.

Aliados de Dilma têm a exata noção de que, quando todos esses fatores desabarem, em conjunto, sobre os eleitores, a insatisfação em relação ao governo vai se agigantar. Eles reconhecem que o anúncio de alta de impostos, da energia elétrica, da gasolina, das passagens de ônibus já fazem estragos na imagem da presidente. Mas quando todos esses reajustes chegarem à vida real, baterem no orçamento doméstico, sem a contrapartida do aumento dos salários, a gritaria será geral.

Dilma tentou, na primeira declaração pública em quase um mês, amenizar o choque no bolso de consumidores e contribuintes. Afirmou que o aumento de impostos e de tarifas faz parte de um conjunto de ações “corretivas” para que o país volte a crescer. Omitiu, porém, o mais importante: que está corrigindo o que estragou em quatro anos. O custo que ela está impondo à sociedade será fruto de políticas equivocadas, populistas, demagógicas.

Em um pronunciamento no início de janeiro de 2013, a presidente disse que, apesar dos pessimistas, o Brasil poderia celebrar o fato de ter reduzido os juros, os impostos e o custo da energia elétrica, sem que houvesse qualquer risco de racionamento ou de estrangulamento no fornecimento de eletricidade. Afirmou, ainda, que o país estava a caminho do crescimento sustentado, puxado pelos investimentos produtivos. Num país sério, seria acusada de propaganda enganosa.

Tábua de salvação

» Dilma Rousseff sabe que, mesmo impopulares, os ajustes na economia propostos pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, serão sua tábua de salvação. Depois do tormento, o país terá condições de crescer com a inflação domada. Ela torce, porém, para que os resultados apareçam mais rápido do que o projetado pelo mercado, pois precisará de um forte contraponto às denúncias de corrupção que estão destruindo a Petrobras e podem se estender à Eletrobras e ao BNDES.

BC fora da realidade

» A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg Associados, diz que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem pelo Banco Central, está defasada ao não fazer nenhuma menção à crise hídrica e aos impactos, na economia, de um eventual racionamento de água e de energia elétrica. Ela afirma que, “talvez, fosse leviano fazê-lo”, pois ainda se fala sobre possibilidades, mas os próximos passos do Copom deverão levar em conta “o que não está considerado em seu cenário”. Thaís aposta em mais uma alta de 0,25 ponto percentual nos juros em março, para 12,50% ao ano.

Descrença no governo

» Ninguém no governo acredita que o BC conseguirá levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, no fim de 2016. Mas essa promessa será sustentada pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, até que a realidade fale mais alto.

Nomeação de Volpon
» Tudo indica que o BC anunciará, na próxima semana, seu novo diretor, Tony Volpon, que estava em Nova York como executivo da Nomura Securities.


Brasília, 16h23min
Vicente Nunes