A presidente Dilma Rousseff decidiu entregar a cabeça de Graça Foster e de todos os diretores da Petrobras numa tentativa desesperada de retomar o controle da empresa. Depois de muita pressão, sobretudo de integrantes da equipe econômica, a chefe do Executivo se convenceu de que, na situação em que a estatal se encontra hoje, sem capacidade de investimentos e levando seus fornecedores à falência, o risco de o país mergulhar em um longo e penoso processo de recessão se agigantou.
Na visão do Palácio do Planalto, as mudanças no comando da petroleira se tornaram questão de sobrevivência para o governo. É preciso criar um fato positivo em meio a um quadro dramático para Dilma, tanto do ponto de vista político quanto econômico. Auxiliares da presidente acreditam que, ao profissionalizar a gestão da companhia, indicará aos investidores que a limpeza da corrupção é para valer. Ninguém acredita mais na capacidade de Graça Foster de fechar os ralos que sugam bilhões de reais dos contribuintes.
A troca de comando da Petrobras, no entanto, vem tarde. Deveria ter ocorrido tão logo a Polícia Federal revelou, por meio da Operação Lava-Jato, que a maior empresa do país, até bem pouco tempo um orgulho nacional, estava sendo tragada por um esquema de corrupção sem precedentes na história. Em vez de agir rapidamente, Dilma fechou os olhos. Pior, continuou usando a estatal para sustentar a sua desastrada política econômica, com combustíveis baratos para evitar que a inflação estourasse o teto da meta, de 6,5%. Somente essa maluquice custou mais de R$ 60 bilhões à companhia.
Por culpa do governo, que priorizou um esquema de poder montado pelo PT, a Petrobras vale hoje, na bolsa de valores, menos do que há 10 anos. A empresa virou sinônimo de descrédito. Ostenta o maior endividamento corporativo do mundo — cerca de R$ 330 bilhões. Está a um passo de rebaixamento e pode levar o país para o buraco.
A petroleira admitiu, em seu último balanço financeiro — sem a chancela de auditores independentes —, que a corrupção lhe roubou ao menos R$ 88,6 bilhões. Dilma achou esse valor exagerado e ficou furiosa por Graça Foster ter relevado a quantia. Os especialistas acreditam que a roubalheira pode ser ainda maior, e há razões de sobra para isso.
A presidente da Petrobras está alegando problemas emocionais para justificar sua demissão. O país, no entanto, espera que ela e Dilma tenham a grandeza de explicarem claramente, sem rodeios, qual a real situação da estatal. Não há mais como omitir fatos tão relevantes. Sem transparência, a futura direção da petroleira já tomará posse sob suspeição. Corre o risco de ser engolfada pelas denúncias que horrorizaram a população. Na situação atual da Petrobras, não há espaço para uma segunda chance.
Maldição do pré-sal
O estresse histórico vivido pela sexagenária Petrobras tem a sua origem, curiosamente, em fatos que deveriam embarcá-la na sua mais virtuosa trajetória. A descoberta das reservas gigantescas do pré-sal, em 2007, colocariam o país no clube dos maiores produtores de petróleo e as inovações da desafiadora exploração consolidariam o destaque da estatal na tecnologia aplicada às águas profundas. Mas a entrada em cena da nova matriz energética global, deflagrada pela liderança dos Estados Unidos na obtenção de insumo fóssil mais barato, o gás de xisto, e os colossais erros estratégicos cometidos pelos governos petistas transformaram ricas jazidas em uma maldição para o país, com custos sociais, econômicos e políticos ainda sem horizonte claro para serem pagos.
Tudo começou com a ânsia do então presidente Lula em colocar em marcha a estrada de progresso movida a petróleo profundo. Ao dizer, em agosto de 2008, que o país tinha ganho um “bilhete premiado” depois de encontrar as reservas na camada do pré-sal, inflamou a cobiça das carentes unidades da Federação. O resultado foi uma batalha de quatro anos no Congresso Nacional, em torno da mudança do marco regulatório, de concessão para partilha, que ampliou a responsabilidade do Estado, leia-se Petrobras e, depois também a PPSA, a Petro-Sal, de olho em um suposto ganho extraordinário.
A corrida pelo ouro negro deixou às claras o problema da concentração de recursos tributários na União e ainda balançou o equilíbrio federativo. Não adiantou Lula pedir cuidado para não gastar o que o país ainda não tinha. O passaporte para o futuro, com toda a tecnologia e capital requeridos, ficou mais distante e com custos políticos e econômicos bem maiores. Em paralelo, corria solto o maior caso de corrupção da história, multifacetado e escorado nos contratos tocados pela Petrobras em várias frentes, desde poços de petróleo a refinarias de combustíveis. Muito triste.
Aparelhamento custa caro
» O mercado não perdoa o aparelhamento do governo. Ontem, com a posse de Antonio Idilvan de Lima Alencar na presidência Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), os investidores derrubaram as ações das empresas de ensino superior. Os papéis da Kroton caíram 3,43% e os da Estácio, 3,05%. Teme-se maior ingerência no Fies, programa de financiamento estudantil, que teve as regras de concessão mudadas recentemente.
Bancos entram no rateio político
» A derrota do governo na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados pode embolar a troca de comando nos bancos públicos. As diretorias das instituições devem ser rateadas entre os partidos da base aliada. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está em alerta. Até o fim da semana passada, era certa a nomeação de Aldemir Bendine para o BNDES, de Miriam Belchior para a Caixa Econômica Federal, e Paulo Rogério Caffarelli para o Banco do Brasil.
Brasília, 00h10min