Palocci é considerado peça-chave pelos investigar para ajudar a entregar as peças que faltam, por exemplo, na Operação Conclave, que investiga a compra de ações do Banco Panamericano, em 2009, pela Caixapar, uma subsidiária da Caixa Econômica Federal. Em 2011, primeiro ano do governo Dilma Rousseff, no qual Palocci ficou alguns meses como ministro da Casa Civil, o BTG Pactual, de André Esteves, entrou no negócio. Comprou a participação do grupo Sílvio Santos no Banco Panamericano. A Caixapar investiu R$ 740 milhões no Panamericano e, dois anos depois, foi a vez do BTG, o que levou a PF a realizar ação de busca e apreensão em representantes das duas instituições em abril deste ano, dentro da Operação Conclave.
Enquanto o mundo dos negócios ferve, o PT aguarda. O partido considera que passou a fase de tentar evitar a delação do ex-ministro, uma vez que todos os emissários falharam nessa missão. Agora, é administrar o que Palocci pode dizer. “Vamos ver. Se for no ritmo das delações que temos visto, cada um fala o que quer sem apresentar provas”, disse o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini.
Os petistas têm se desdobrado na tribuna da Câmara e do Senado no sentido de reverberar a falta de provas. O senador Lindbergh Farias, por exemplo, ficou mais de uma hora na tribuna do Senado, na última quinta-feira, se referindo ao depoimento de Lula como uma farsa montada pelo juiz Sérgio Moro para expor o ex-presidente. Em relação a Palocci, ele ainda não montou o discurso. É preciso esperar para ver o que o ex-ministro vai falar.
Em conversas reservadas, outros petistas têm dito que Palocci tem um arsenal para provocar estragos. Afinal, enquanto ministro de Lula no primeiro mandato e coordenador da campanha eleitoral de Dilma em 2010, ele fez muitas pontes com o mercado financeiro para abastecer os cofres petistas. O partido, porém, acredita que ele pode provocar também estragos entre os empresários apoiadores do governo de Michel Temer, de forma a distribuir o desgaste.
Reformas
Enquanto Palocci aquece os motores de sua delação, os petistas querem dedicar os próximos dias a tentar desgastar o governo no quesito reforma da Previdência. Na Câmara, por exemplo, estão previstos diversos movimentos do partido no sentido de pressionar a bancada do agronegócio a votar contra a reforma por causa das mudanças no Funrural, um tema que, embora o governo tenha cedido em parte, ainda não está totalmente resolvido.
A oposição acredita que Temer ainda não tem os votos para aprovar a reforma da Previdência e nem os terá, se a pressão sobre a base governista for bem realizada. Ocorre que, quanto mais Palocci e Lula estiverem na roda da Lava-Jato, mais difícil ficará para o PT jogar toda a sua energia no movimento contra as reformas. Na semana passada, por exemplo, precisou se mobilizar para acompanhar o depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro. Agora, dependendo do que Palocci falar nos próximos dias, a maior energia petista continuará dedicada a respostas às delações. O alento, dizem alguns, é que essa mobilização contra o que pode dizer Palocci não será privilégio do PT. Diante da perspectiva do furacão, o sistema financeiro, bem como no PT, fazem como os americanos quando vem um furacão: a ordem é colocar madeirite nas janelas e buscar um abrigo.
Brasília, 09h30min