Com o impeachment confirmado em 31 de agosto, Geddel conseguiu a primeira vitória do governo Temer, que, naquele mesmo dia, tomava posse como presidente. Negociador nato, o baiano era considerado o mais atrevido, o que saía na frente para conquistar apoios, com Romero Jucá. Só depois da abordagem de Geddel, era que entravam em cena Eliseu Padilha e Moreira Franco. Deputado federal por cinco mandatos, Geddel foi próximo de Temer durante todo esse período. E um dos primeiros a defender publicamente a saída do PMDB do barco de Dilma antes do naufrágio.
A queda de Geddel da Esplanada ocorreu a contragosto de Temer, que aceitou a carta de demissão do baiano uma semana depois de o episódio envolvendo o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero vir à tona, ainda em novembro do ano passado. Na missiva, Geddel tratou Temer como “fraterno amigo”. O presidente perdia ali um dos principais articuladores do governo com o Congresso. É preciso lembrar que a votação do teto de gastos na Câmara ocorreu em outubro do ano passado, um mês antes da queda de Geddel — a parte mais simples, no Senado, foi confirmada dois meses depois, em dezembro.
Sem Geddel na Esplanada e com a delação da JBS, o governo vive no sufoco no Congresso. Se distante do Planalto o peemedebista era um problema pela falta que fazia nas negociações, agora, preso, Geddel representa um risco, caso puxe um tempo de cadeia e resolva fazer uma delação. Até lá, entretanto, o governo Temer tem problemas mais urgentes para resolver.
A sustentação
É preciso considerar que a sustentação do presidente Michel Temer está, hoje, fora do Congresso. O peemedebista se apoia em algo um pouco mais etéreo, que passa por um sentimento de confiança do setor produtivo. A relação é direta quando se diz que as reformas são fundamentais para o Planalto, pois é o sinal positivo para o mercado, incluindo aí a indústria, o comércio, os serviços e a construção civil. É a velha máxima do marqueteiro James Carville: “É a economia, estúpido”. Se ela vai bem, tudo pode se adequar. Mal, é um Deus nos acuda.
Com a crise da delação da JBS ainda nos calcanhares de Temer e a perplexidade do Congresso, alguns especialistas chegaram até mesmo a levantar um início de separação entre a economia e a política na avaliação de cenários do país. A análise é arriscada e precipitada. Se a popularidade política de um presidente passa pela satisfação de aspectos econômicos para o eleitor, fazer tal distinção serve apenas para explicar de forma rasa os tais sinais positivos. A sustentação de Temer está ligada à expectativa de aprovar reformas e manter a chama da recuperação econômica acesa.
O importante
A pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgada ontem sobre o Índice de Confiança Empresarial mostra, entretanto, que a situação do governo não é das mais tranquilas. Segundo os números, o ICE recuou 2,1 pontos em junho, chegando a 83,9 pontos. A medição anterior, de maio, mostrava uma sequência de cinco altas, mas havia sido coletada antes da notícia da delação de Joesley Batista. Na avaliação dos coordenadores da pesquisa, o “aprofundamento da crise política” ocorreu depois de 17 de maio (dia da notícia da delação)”. A partir daquela data, o governo iniciou a perda de substância.
Os coordenadores da pesquisa alertam para o fato de que, caso a tendência de queda não seja revertida, o mau humor poderá se refletir no dia a dia das empresas, levando a revisões de cenários por parte dos empresários. Foi isso que definiu a degola de Dilma Rousseff, quando o empresariado perdeu as esperanças de que a petista pudesse retomar o crescimento perdido. O cálculo parecia fácil de ser feito à época, pela confiança na capacidade de diálogo do então vice, Michel Temer. Não deixa de ser sintomático que a tal confiança seja definitiva para o futuro de Temer a partir de agora.
Brasília, 09h29min