Daqui a 20 anos

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POR PAULO SILVA PINTO

Muita coisa precisa mudar no Brasil. E uma boa parte da lista envolve transformações cujo resultado vai demorar para aparecer. Essa perspectiva dá um baita desânimo, e a gente tende a deixar o início do processo para mais tarde. Aí é que a coisa não anda mesmo. Foi o que aconteceu com várias ideias de reforma.

A vantagem de estar na quinta década de vida, ou para além disso, é que a gente tem clara essa perspectiva. É possível olhar para discussões que estavam em pauta 20 anos atrás, com chances claras de avanço. Os exemplos são abundantes. Mas podemos falar do mal que mais nos incomoda: a corrupção. Em meados dos anos 1990, vazou um relatório da Embaixada dos Estados Unidos que tachava esse problema de endêmico aqui.

Causou um baita mal-estar. Os meios diplomáticos dos dois países trataram de botar panos quentes. Melhor teria sido a gente ter assumido a mazela, que era e é gigantesca. Atinge vários estratos da sociedade, e, de modo especial, pessoas ligadas ao poder. Preferimos, durante muito tempo, dizer que o problema era mundial. É verdade, mas pouco importa. Deveríamos ter olhado para nós mesmos em vez de nos preocupar com os outros.

Que país teríamos hoje se as doações de empresas a campanhas eleitorais tivesse sido vetada na época? Possivelmente algo melhor. Os riscos de aumento do caixa 2 são grandes. Mas as chances de ganhos são enormes.

Ainda que tardiamente, iniciamos o processo. Além da mudança no financiamento das campanhas, estamos em meio à maior investigação de desvio de dinheiro público que já houve no Brasil, a Lava Jato. Nesse caso, é um pouco mais difícil imaginar que ocorresse antes, e não porque faltasse objeto de investigação. O que não havia eram promotores e juízes tão entrosados no ambiente internacional, que dispusessem de acordos permitindo intensa troca de informações.

Se as condenações vierem a envolver de forma ampla pessoas de todos os partidos pegos pela Lava-Jato, será uma mudança de paradigma no país. Mais ainda se vier acompanhada de uma consciência de todos os brasileiros de que não é possível ter políticos honestos em uma nação onde pequenas transgressões da lei fazem parte do dia a dia.

Brasília, 09h37min

Vicente Nunes