Dados de serviços fazem mercado melhorar previsão do PIB de 2022

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ROSANA HESSEL

Após a divulgação do crescimento de 1,7% no volume de serviços de março do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (12/5), diante dos dados acumulados do primeiro trimestre do ano, analistas estão debruçados sobre as planilhas e revisando as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022. Tudo indica que a tendência é de que os números deste ano fiquem um pouco melhores do que as projeções iniciais, mas os dados de 2023 não são muito animadores.

Foi o que fez o Credit Suisse, que divulgou uma revisão da projeção de crescimento do PIB deste ano, de 0,2% para 1,4%, após o dado da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do IBGE, ter ficado bem acima da mediana do mercado, de 0,8%.  Com o novo dado, o banco suíço elevou de 0,4% para 1,1% a previsão de crescimento do PIB do primeiro trimestre de 2022.

“No geral, a forte surpresa positiva confirma uma dinâmica muito melhor da atividade econômica observada nos demais indicadores econômicos, incluindo produção industrial, vendas no varejo e taxa de desemprego. As surpresas de alta em serviços foram mais expressivas em setores fortemente afetados pela pandemia, indicando uma recuperação mais rápida do lado da oferta da economia. Além disso, a demanda permaneceu robusta apesar do aperto das condições financeiras e da inflação mais alta”, destacou o relatório preparado pelos economistas Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho.

O banco suíço, no início do ano, tinha uma das estimativas mais pessimistas para o PIB brasileiro, de queda de 0,5%. Para o PIB de 2023, a instituição rebaixou a previsão de crescimento de 2,1% para 0,9%. Um dos motivos é a recente revisão das expectativas de política monetária, cujo ciclo alta dos juros deverá ser mais prolongado devido à persistência inflacionária, que devem fazer a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 12,75% ao ano, chegar a 14% em agosto.

Para o próximo ano, nosso modelo aponta para uma baixa possibilidade de iniciar o ciclo de flexibilização no início de 2023, uma vez que a inflação homóloga e as expectativas de inflação muito acima das metas no horizonte da política monetária. Esperamos que, em 2023, a taxa Selic deverá encerrar o ano em 9,5% ao ano, com o ciclo de flexibilização começando em maio. Acreditamos que o riscos para a Selic no próximo ano estão titulados de alta devido ao cenário inflacionário remanescente assimétrica a uma inflação mais alta”, destacou outro relatório do Credit, divulgado depois de o IBGE divulgar a alta de 1,06% no IPCA de abril — a maior variação em 26 anos.

Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, adiantou ao Blog que pretende elevar a projeção do PIB deste ano, atualmente, em 1%, para “algo próximo de 1,5%”. “O  bom desempenho dos serviços ao lado do comércio e indústria reforçam o cenário de um primeiro trimestre mais forte, justificando rever o PIB deste ano para cima”, explicou. Ele lembrou que os gastos da poupança acumulada durante a pandemia; o Auxílio Brasil de R$ 400, no lugar do Bolsa Família e o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), “ajudam entender o bom desempenho neste primeiro semestre” e que estão ajudando a melhorar as projeções. Para 2023, entretanto, ele prevê que o PIB deverá registrar alta em torno de 0,20%.

Assim como Rosa, o economista Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) ressaltou que há várias medidas recentes do governo que devem estimular o consumo e os serviços, neste primeiro semestre, e que devem ajudar para que o segundo trimestre deste ano seja até melhor do que o primeiro, como os R$ 30 bilhões de saques previstos do FGTS e o adiantamento do 13º dos aposentados.  “No curto prazo, há uma trajetória positiva para serviços por conta dessas liberações de recursos e há a expectativa de que há segmentos que ainda precisam se recuperar, como o de serviços prestados às famílias, que acabam dando uma perspectiva favorável com o volta dos trabalhadores do home office. Mas não podemos nos esquecer de que 2022 é um ano eleitoral e esse cenário positivo não é uma certeza no segundo semestre”, alertou ele, afirmando que, por enquanto, a previsão do Ibre de alta de 0,6% no PIB deste ano está mantida, mas ele não descartou nova revisão.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, manteve as projeções atuais, mas reconheceu que pode haver revisão para cima da projeção do PIB deste ano. Ele também fez um alerta para a alta dos juros não apenas no Brasil devido à inflação global cada vez mais persistente. “Nossas previsões não mudam, por enquanto, mas as estimativas para o PIB caminham para ficarem entre 0,5% e 1%, com piora no segundo semestre devido ao impacto dos juros e da economia internacional”, destacou. Para o PIB de 2023, ele prevê alta de 0,5%.

Vicente Nunes