O silêncio ensurdecedor do governo sobre o terrível resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano — queda de 1,9% ante os três meses anteriores — dá a dimensão dos erros cometidos pela presidente Dilma Rousseff na economia. A perversa combinação de inflação alta, juros elevados, contas públicas em frangalhos, crédito escasso, corrosão da renda, desconfiança, desemprego e crise política não apenas destruiu o presente como comprometeu o futuro do país. Para sair do atoleiro em que se encontra, o Brasil precisará de pelo menos três anos de políticas econômicas responsáveis. O difícil é acreditar que Dilma será capaz de fazê-lo. O resultado do PIB é um desastre de qualquer ponto de vista que seja analisado. Motor do crescimento nos últimos anos, o consumo das famílias foi dilacerado pela carestia. Os consumidores foram obrigados a tirar itens essenciais do carrinho de supermercado porque o orçamento não comportava mais. Parte da renda foi comprometida com o aumento das tarifas públicas, em especial, as da energia elétrica, que, na média, subiram mais de 50% neste ano. A corrosão do poder de compra está levando ao calote, que tende a se intensificar nos próximos meses, à medida que o desemprego for crescendo. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo das famílias caiu pelo segundo trimestre consecutivo — 1,5% e 2,1%, respectivamente —, fato que não se via há mais de uma década. Como a inflação continuará rodando acima de 9% no acumulado de 12 meses até pelo menos abril do próximo ano, não há como acreditar em recuperação da demanda. Por isso, os analistas ampliaram as projeções de retração do PIB para 2015 e 2016. Consumo fraco das famílias significa menos vendas do varejo e encomendas menores à indústria. É esse ciclo vicioso que explica a brutal queda dos investimentos — somente entre abril e junho, o tombo chegou a 8,1%. Já são oito os trimestres seguidos de contração nos desembolsos das empresas. Os agentes econômicos não investem porque, quando olham para a frente, não veem perspectivas de melhoras. Muito pelo contrário. Assim, diante da gravidade da crise política, que aprofunda os problemas da economia, preferem manter o dinheiro em caixa do que arcar com prejuízos por causa da fragilidade do consumo. Sem investimentos, não há como se falar em retomada do crescimento. Em meio ao caos provocado por Dilma, nem o setor de serviços, que reponde por mais de 71% do PIB do lado da oferta, conseguiu se manter de pé. Apesar de o nível de atividade vir se desacelerando desde meados de 2013, tal segmento vinha funcionando como um amortecedor, sobretudo na questão do emprego. Muitos trabalhadores demitidos pela indústria acabaram sendo absorvidos pelo setor de serviços, o que ajuda a explicar o fato de as taxas de desocupação ficarem tão baixas por tanto tempo, a despeito de a economia estar afundando. Agora, a situação desandou por completo. Enganação
Os dados do IBGE remetem para as declarações de Dilma de que ela foi surpreendida pela crise que devastou a economia. Nos últimos oito trimestres, em quatro deles, o PIB registrou queda. Em outros dois, o indicador teve variação zero. Na média, a economia registrou contração trimestral de 0,38%, ou seja, não há como a presidente não ter percebido que a política que ela executava, a nova matriz econômica, estava afundando o país e contratando o desemprego, que se tornou o maior fantasma para as famílias. Esperava-se que, depois de tantos erros, Dilma recuperasse o bom senso. Ledo engano. Agora, ela resolveu ressuscitar a CMPF, o imposto sobre movimentação financeira, para tentar fechar o caixa em 2016 e, depois de dois anos consecutivos de rombo nas contas públicas, finalmente cumprir a meta de superavit primário, de 0,7% do PIB, prometida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O governo, com sua mania de enganação, lançou a proposta de recriação do tributo com outro nome, Contribuição Interfederativa da Saúde CIS), prometendo rateá-lo com estados e municípios. Mas acabou admitindo que 98% dos recursos arrecadados ficarão com a União. A proposta de ressurgimento da CPMF só alimenta a onda de desconfiança que está travando a economia. Implantado, o tributo retirará renda das famílias e encarecerá o custo de produção das empresas. Nesse contexto, o imposto será mais um empecilho para a recuperação da economia. Metendo os pés pelas mãos, a presidente só estimula as incertezas. E a fatura, todos nós sabemos, cairá no colo do lado mais fraco, a população, sobretudo da mais pobre, que, até Dilma ser reeleita, acreditava piamente que dias melhores estavam por vir. Potencial e loucura
» Nos cálculos da Rosenberg Associados, na melhor das hipóteses, o Brasil só voltará a crescer próximo de seu potencial, de 2%, a partir de 2018. Isso, se o governo não cometer mais nenhuma loucura na economia. Dilma, a pior do pior
» Realmente, Dilma entrará para a história como a pior presidente dos últimos 85 anos. Ela fará a proeza de acumular dois anos de queda do PIB. Não por acaso, até o criador dela, Lula, já vê com bons olhos a renúncia da petista. Desejo e realidade
» Para o governo, o Banco Central deve ser bem claro na sua comunicação ao mercado após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana. Terá que dizer que, definitivamente, não subirá mais os juros. Torcida para recuperação
» A torcida dentro do Planalto é para que o BC comece a cortar a taxa básica de juros (Selic) no primeiro trimestre de 2016. Será um fato positivo para convencer os empresários de que a recuperação da economia está mais próxima.
Brasília, 00h01min