POR ANTONIO TEMÓTEO
Investir no Brasil não é uma tarefa para amadores. Com uma das maiores cargas tributárias do planeta, o país impõe desafios adicionais aos empresários, como insegurança jurídica, corrupção endêmica, falta de infraestrutura e mão de obra pouco qualificada. Mas, mesmo quem se acostumou com todas essas barreiras e prosperou está estarrecido com o momento atual. Um experiente banqueiro relata que, na gangorra de emoções do mercado brasileiro, os analistas se acostumaram a conviver com a maré de crises política ou econômica. Uma em maior intensidade que a outra e, em poucas oportunidades, simultaneamente.
O espanto maior, relata o executivo, é que a crise política e econômica se somou à jurídica. “Vivemos a maior recessão da história e não sabemos se ela acabará. O Congresso está paralisado diante de seguidos escândalos de corrupção. E agora corremos o risco de ter dois presidentes depostos, em um intervalo de um ano, por meio de um impeachment e de um processo jurídico”, alerta. Diante de tantas incertezas, até quem conhece os melindres de Brasília está em compasso de espera. Um experiente analista político, que preferiu anonimato, explica que as decisões tomadas pelos magistrados que comandam a Operação Lava-Jato em Curitiba (PR) e Brasília (DF) têm mesclado períodos de crise crônica e aguda.
A intensidade do problema aumenta a cada delação que se torna pública ou a partir das prisões deferidas pelos magistrados. O nível de insegurança e incerteza colocou investidores e consumidores em compasso de espera. Agora, todos aguardam os desdobramentos do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma derrota simbolizará o fim do governo do peemedebista. Uma vitória dará fôlego para que o chefe do Executivo negocie a aprovação de reformas desidratadas. Um sinal favorável a esse processo foi dado ontem pelo Senado Federal. Em vitória por 14 a 11, a Comissão de Assuntos Econômicos aprovou a reforma trabalhista.
O texto segue para as comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Constituição de Justiça (CCJ). As mais de 200 emendas ao texto foram rejeitadas. Entretanto, ainda não está claro se o governo conseguirá maioria para aprovar a matéria em plenário. Todas essas incógnitas têm afligido ainda mais os milhões de brasileiros que, sem voz no debate político, esperam agoniados a recuperação econômica para voltar a pagar as contas em dia. A única certeza do povo é que a crise continuará ao longo da semana, enquanto o TSE julga a possibilidade de cassação da chapa que elegeu Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto em 2014.
Paralisia
Incertezas, independentemente da origem, têm impacto negativo na geração de riquezas no país, explica o economista Rafael Cardoso, da Daycoval Investimentos. Ele ressalta que as tensões influenciam a taxa de câmbio, diante da alta no risco de fazer aplicações no país. Com isso, pressões inflacionárias passam a assombrar a atividade econômica. Apesar de tudo, somente no Brasil as relações de causa e efeito nem sempre se tornam realidade. Cardoso destaca que a piora da percepção de risco deve se sobrepor à possível alta de preços provocada por repasses cambiais.
Conforme ele, a piora da atividade econômica exercerá um efeito desinflacionário maior do que qualquer variação cambial. O economista assinala que, com a recessão e a baixa demanda, os empresários não conseguem repassar a alta de custos para os preços. Para piorar, mesmo as famílias que não estão endividadas e as empresas que têm dinheiro em caixa — poucas em relação à maioria — adiam decisões de consumo e de investimentos. “O impacto inflacionário das incertezas teria repercussão na política monetária. Por mais que o Banco Central sinalize que o ritmo de corte de juros será de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom, uma queda de 1 ponto percentual não pode ser descartada”, comenta.
Ele lembra que, além das incertezas políticas, a autoridade monetária citou que analisará os impactos da crise sobre a atividade econômica e sobre a inflação. E, como o próximo encontro do colegiado ocorrerá somente em 25 e 26 de julho, a tendência é de que a quantidade de incógnitas possa ter diminuído. “Não é o cenário base, mas pode chegar a esse ponto, na medida em que o nível de pressões diminuir”, afirma. Cardoso ainda alerta que um processo de alta do dólar não deve se sustentar diante das condições benignas para o financiamento externo. “Pensar em depreciação duradoura do real agora não parece ser correto”, completa.