Tais projeções enterram qualquer visão de euforia para a economia. O horizonte que havia se aberto até 17 de maio, quando o país tomou conhecimento de um encontro nada republicano entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, voltou a ficar turvo. Ninguém consegue dizer hoje, com clareza, qual será o destino de Temer, quem irá substituí-lo em caso de ele deixar o posto, nem quem comandará o país a partir de 2019. Nesse ambiente tão conturbado, a tendência é a economia ficar a reboque de notícias que só favorecem os especuladores.
A confusão é tanta que ninguém descarta a possibilidade de o Brasil ter, em 2017, o terceiro ano de queda do PIB. Ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas Gomes diz que as duas principais alavancas da atividade, o consumo e os investimentos, estão travadas. O quadro se agravou com a decisão do Banco Central de pôr um freio no crescimento, ao informar que reduzirá o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic). “Tudo indica que o PIB voltará a ficar negativo no segundo trimestre do ano”, afirma. Nem mesmo o bom resultado da indústria (alta de 0,6%) em abril será suficiente para evitar isso.
Predominância previdenciária
Thadeu ressalta que o Brasil está entrando em um terreno muito perigoso por causa da crise política e da falta de direção em relação às eleições de 2018. Se, até o ano passado, havia o risco de o país mergulhar no que os especialistas chamam de dominância fiscal (quando a política de juros perde eficiência por causa dos rombos crescentes nas contas públicas), agora, pode se deparar com a “predominância previdenciária”. Sem a reforma do sistema de aposentadorias, os deficits crescerão de uma forma tão rápida que não haverá espaço no Orçamento da União para pagar as demais despesas.
“Sem a reforma, os gastos com a Previdência vão inviabilizar o teto dos gastos já em 2019”, acredita Thadeu, hoje economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC). “Por isso, não há alternativa à reforma previdenciária”, assinala. Ele assegura que, assim como na dominância fiscal, tanto fará se o BC aumentar ou reduzir os juros. “Será um quadro devastador para a economia”, enfatiza. É por isso, no entender dele, que o país mergulhou num clima de suspense. Não se sabe mais se o atual governo conseguirá aprovar as reformas nem se os governantes futuros o farão.
Tanto o Palácio do Planalto quanto a equipe econômica estão cientes dessas dúvidas. Não à toa, definiram uma agenda pesada para os próximos dias a fim de convencer o Congresso a fazer andar as reformas e de resgatar a confiança do empresariado. “O crescimento do PIB de 1% no primeiro trimestre nos abriu uma janela de oportunidade. Mas sabemos que ela é estreita. Se não conseguirmos virar o jogo agora, mostrando que o governo ainda tem rumo, será terra arrasada”, afirma um dos mais conceituados técnicos da área econômica. Que completa: “Temos uma missão muito difícil, mas não impossível”.
Brasília, 08h51min