Credit melhora previsão de PIB do Brasil, mas prevê inflação média de quase 10%

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ROSANA HESSEL

Em um cenário cada vez mais desanimador para a economia global, com chances de estaglação — o pior dos mundos na teoria econômica, quando não há crescimento e os preços não param de subir –, por conta da guerra na Ucrânia, o Credit Suisse divulgou novas previsões para a economia global. O banco suíço piorou as estimativas de crescimento e elevando as de inflação, principalmente, as do Brasil, que podem chegar perto de 10% na média do ano.

Conforme relatório divulgado nesta terça-feira (5/4), o banco suíço reduziu de 4% para 3,5% a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, e revisou de 4,4% para 6,4% a perspectiva de inflação global.  Por outro lado, previsões do PIB do Brasil deste ano também foram revisadas pelo Credit Suisse e ficaram no campo positivo, passando de -0,5% para 0,2%. Já a expectativa para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na média ao longo do ano, ficou em 9,7%, podendo chegar a 7,8% em dezembro de 2022 — estimativa recém-revisada pela equipe do Credit no Brasil.

“Assim como a recuperação da pandemia global parecia quase completa, a eclosão da guerra na Ucrânia imprimiu mais um choque no mundo economia. As perturbações resultantes nos mercados de commodities impulsionaram ainda mais inflação, e é provável que reduzam a produção”, alertou o documento de 67 páginas. De acordo com o relatório, os economistas do Credit acreditam que um cenário de estagflação semelhante aos anos 1970 será evitado. “A economia global tornou-se menos intensiva em energia, enquanto balanços do setor privado ciclicamente fortes, gastos governamentais adicionais, e a recuperação em curso no setor de serviços são favoráveis”, acrescentou.

Contudo, esse cenário “moderadamente positivo” dependerá do fato de os bancos centrais conseguirem controlar a inflação “sem grandes perturbações”, o que sugere uma paulada nos juros.  “A chave para atingir esse objetivo é que os bancos centrais mantenham sua credibilidade conquistada com muito esforço das últimas décadas ou, mais concretamente, para conter as expectativas de inflação. Nós acreditamos que o aperto monetário antecipado agressivamente será mais eficaz nesse sentido”, acrescentou.

Pelas estimativas da instituição financeira, o impacto da guerra da Ucrânia será mais forte nos países expostos à Rússia e à Ucrânia ou que são dependentes das importações de petróleo e de gás. Com isso, o banco reduziu de 3,8% para 2,8% a previsão de alta do PIB da Zona do Euro e revisou de 3,3% para 3,2% a estimativa para o PIB dos Estados Unidos. Além disso, fez um alerta para os riscos negativos dos bloqueios na China por conta da covid-19, mas manteve em 5,9% a expectativa de expansão do PIB chinês.

O banco também mudou a previsão de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), e passou a prever um aperto monetário mais alta de mais 0,50 pontos-base, em maio, para 125 pontos em 2022 e outros 100 pontos em 2023. ” “Essa última alta dependerá de da ausência de choques negativos significativos adicionais à economia. O aperto do Fed aumentará a pressão sobre outros bancos centrais, especialmente na América Latina, e até mesmo o Banco Central Europeu deve ‘decolar’ em dezembro a menos que o conflito na Europa Oriental aumente substancialmente”, informou o texto.

Vicente Nunes