CORTE NOS JUROS

Publicado em Sem categoria

Uma parcela do mercado financeiro já começa a cogitar a possibilidade de o Banco Central cortar a taxa básica de juros (Selic) a partir de abril como forma de responder à depressão da economia. O entendimento é de que os primeiros números da atividade em 2016 vão mostrar um país em colapso, com retração maior que a registrada no ano passado. Números iniciais colhidos pelo BC, referentes a janeiro, apontam que o precipício ficou muito mais próximo.

 

A determinação entre os diretores do BC, porém, é de passar a visão de que não há perspectiva de mudança na política monetária tão cedo. Depois da desastrosa operação comandada pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, de rasgar e enterrar documentos e discursos indicando a alta da Selic, o banco não quer alimentar expectativas que, a princípio, não têm como se concretizar diante da insistência da inflação em se manter acima de 10%, o que se verá até março.

 

O BC acredita, contudo, que, mesmo com os agentes econômicos piorando as projeções de inflação para este ano e os próximos, o custo de vida cederá mais rápido que o projetado. Um técnico graduado do banco ressalta que muita gente ainda não se deu conta dos efeitos deflacionários da queda do preço do petróleo. “A tendência é de só se olhar para os preços da gasolina. Mas o impacto do petróleo na economia é muito maior, vai da cadeia petroquímica ao querosene de aviação”, frisa.

 

Tábua de salvação

 

Para Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, ao cogitar a queda dos juros, o mercado está buscando se apegar a notícias boas como tábua de salvação. Ontem, por exemplo, o dólar caiu abaixo de R$ 4 porque os investidores viram com bons olhos o cerco que se montou em torno do ex-presidente Lula pela Operação Lava-Jato. A crença é de que, se for preso, o petista terá que abrir não da candidatura à sucessão de Dilma Rousseff em 2018, encerrando a era PT.

 

“Sinceramente, não há como ser otimista, por mais que se queira. A situação do Brasil hoje é assustadora”, afirma Buccini. Ele ressalta que as contas públicas explicitam que o país está em severa crise fiscal, com rombo que passa de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). “São dados de nações em guerra”, ressalta. A situação se agrava, no entender dele, porque o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, não dá sinais de comprometimento com a arrumação das finanças governamentais.

 

Além de apresentar remendos para reativar a economia, como o pacote de crédito de R$ 83 bilhões, o ministro joga para o Congresso toda a responsabilidade do ajuste fiscal. Como Buccini não acredita em força política do governo para levar adiante medidas impopulares, não descarta a hipótese de o deficit público fechar este ano além de 2% do PIB, ou seja, acima do observado em 2015. “Mesmo com mais impostos, o rombo poderá ficar entre 1% e 1,5% do PIB”, prevê.

 

Desemprego

 

O deficit fiscal virá acompanhado da disparada do desemprego, diz Buccini. “Estamos prevendo índice de desocupação acima de 12%”, destaca. Se essa taxa se concretizar, a população tenderá a cair da real. Hoje, mesmo com a maior recessão desde o início dos anos 1930, com todas as denúncias de corrupção e a inflação persistentemente elevada, os eleitores continuam passivos, longe das ruas, como se nada estivesse acontecendo.

 

“Esse quadro tende a mudar à medida que o desemprego for batendo à porta das famílias”, assinala o economista da Rio Bravo. Sem salários, muitos trabalhadores não terão como pagar as contas em dia. Também não conseguirão tomar crédito. “Nesse contexto, as pessoas que não ligaram o modo crise o farão”, acrescenta. A passividade da população só favorece o governo, que continua fazendo escolhas erradas e prolongando o sofrimento.

 

Buccini diz ainda que, mesmo diante de novas turbulências na economia internacional, não haverá como o governo jogar a culpa na China, nos Estados Unidos ou na Europa. “Os problemas são todos nossos. E a única forma de superá-los será mudar a direção da política econômica e as pessoas que estão no comando do país”, afirma.

 

Brasília, 08h30min