O governo, com seus meros 6% de popularidade, tinha tudo para surfar na onda de uma notícia excelente: a menor inflação em 19 anos. Logo na manhã de ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o custo de vida havia fechado 2017 em 2,95%, inferior ao piso da meta fixado em lei, de 3%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cedeu, sobretudo, por causa da forte queda dos preços dos alimentos, o que favoreceu os mais pobres.
Mas pouco ou nenhum proveito o governo tirou de informação tão alvissareira. Ao longo do dia, nenhum assunto despertou tanto a atenção do distinto público quanto a nomeação da deputada Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho. A insistência do presidente Michel Temer em torná-la ministra levantou sérios questionamentos entre seus aliados. Para eles, não há por que um governo tão impopular, que está batalhando para aprovar uma reforma da Previdência Social, arranhar ainda mais a sua imagem. Não se trata, na visão desses políticos, de questão de honra, mas de falta de visão.
A escolha do sucessor de Ronaldo Nogueira para o Ministério do Trabalho já começou errada. O Planalto apresentou oficialmente o nome de Pedro Fernandes para a pasta, que, poucos depois, foi descartado porque era adversário do ex-presidente José Sarney. O PTB, que o havia indicado, acabou apresentando para o cargo Cristiane Brasil, filha do presidente da legenda, Roberto Jefferson. O que ainda era uma crise controlada se transformou em uma bomba, explicitando o quanto o governo está refém dos partidos da base aliada. O PTB insiste em manter o comando do ministério. Mas não tem um nome de peso em seus quadros para indicar. Até quando Temer insistirá no erro?
A Justiça já ratificou que não endossará a nomeação de uma deputada condenada pela Justiça trabalhista para ocupar um ministério tão importante. Ontem, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) negou mais dois recursos que tentavam garantir a posse de Cristiane. Ou seja, o melhor que Temer deve fazer é desconvidar logo a deputada e pôr fim à novela que só provoca mal-estar para o governo.
Não custa lembrar que o melhor da inflação, que tirou o país da recessão, ficou para trás. A alta de 0,44% em dezembro, puxada pelos alimentos, indicou que o índice de 2018 deve ficar mais próximo de 4,5%. Diante de tal perspectiva, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, começou a mudar o discurso. Ele já não dá mais como certa a continuidade da queda da taxa básica de juros (Selic), que está em 7% e poderia ceder até os 6,5%. Brasília precisa tomar juízo.
Brasília, 06h37min