Correio Econômico: Servidores cobram transparência do BC

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ANTONIO TEMÓTEO

Os servidores do Banco Central (BC) prometem uma manifestação na próxima quinta-feira, data de publicação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Eles pretendem ir de preto e fazer um ato simbólico pela falta de diálogo com a diretoria da autoridade monetária. A insatisfação dos trabalhadores se dá, principalmente, porque as propostas para reestruturação da carreira não foram debatidas e uma parte das mudanças discutidas no governo não foi repassada formalmente à categoria.

A principal cobrança dos servidores de nível superior está ligada à mudança da nomenclatura da carreira. Eles deixaram claro que a medida não está relacionada a aumento de salário. Eles pleiteiam que a carreira de analista seja alterada para de auditor. Conforme eles, o trabalho de supervisão, fiscalização, auditoria e monitoramento do sistema financeiro é prejudicado nesse processo. Alguns relatam que em diversos trabalhos realizados em instituições financeiras, os empregados de bancos e corretoras solicitam falar com os auditores.


Outro obstáculo para a realização dos trabalhos é a falta de uma identidade funcional semelhante à de auditores da Receita Federal. Tanto a Receita Federal quanto o BC possuem autonomia para realizar fiscalizações sem aviso-prévio. Com a identidade funcional, esse processo ganharia agilidade na hora de os servidores se identificarem. No caso da autoridade monetária, os servidores possuem apenas os crachás.


Em reunião realizada ontem no térreo do edifício-sede, muitos também se queixaram que a autonomia operacional em lei, sem garantia de autonomia financeira, não garante qualquer estabilidade. Alguns alertaram que a medida pode enfraquecer o trabalho realizado e dar brecha para que ocorra aparelhamento político, semelhante ao existente em agências reguladoras. “Precisamos cobrar a Agenda BC+ Clareza”, disse um dos servidores que participou do ato, que não contou com o suporte do sindicato da categoria.


Valorização

Além disso, o grupo quer manter o BC blindado de indicações políticas e garantir que as funções de chefia de departamento, por exemplo, sejam exclusivas de servidores de carreira, assim como é hoje. Alguns explicaram que decisões recentes do governo, como a de abrir a possibilidade de desligamento voluntário foi proibida apenas para as carreiras de auditoria. Os analistas da autarquia podem solicitar o benefício.


Em meio ao embate, fica claro a necessidade de o governo abrir um diálogo permanente com os servidores responsáveis por fiscalizar um dos sistemas financeiros mais concentrados do mundo. O enfraquecimento da categoria pode trazer prejuízos para a sociedade e a falta de valorização tem levado a um êxodo de trabalhadores para cargos no Legislativo ou em outros órgãos do Executivo.

Brasília, 06h35min

Vicente Nunes