Correio Econômico: Recuperação da economia será lenta

Publicado em Economia

ANTONIO TEMÓTEO

O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, se reuniu na tarde de terça-feira, 6, com os presidentes das cinco maiores instituições financeiras do país e ouviu dos convidados que o processo de recuperação da economia será lento e rodeado de incertezas. Os banqueiros traçaram um quadro realista, sem qualquer sinal de euforia, sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Foram unânimes em destacar que a expansão da atividade ocorrerá em ritmo mais lento do que se imaginava.

 

A expectativa era a de que Ilan repassasse aos convidados as preocupações do presidente Michel Temer relacionadas ao ritmo de liberação de crédito e à recente alta das taxas de juros, que não dão trégua para os brasileiros. Na avaliação de auxiliares de Temer, há uma demanda por financiamentos, mas falta empenho dos bancos em liberar recursos. As cobranças não foram feitas e o presidente do BC deixou o encontro satisfeito com o que ouviu.

 

Os banqueiros avaliaram que a crise econômica trouxe inúmeros desafios para o país, sinalizaram que o ritmo de recuperação será lento, com alta do PIB próxima de 3%, e que o crédito será liberado aos poucos. O principal temor do sistema financeiro é com as incertezas eleitorais. Sem um cenário claro e um nível de previsibilidade que garanta conforto para a tomada de decisões, os presidentes dos bancos disseram que o momento é de cautela.

 

Foram unânimes em sinalizar que esse processo será benéfico para a inflação, já que, sem pressões de demanda, os preços tendem a ficar comportados. A reunião, que é feita trimestralmente, contou com a presença dos presidentes do Itaú Unibanco, Cândido Bracher; do Santander, Sérgio Rial; do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli; da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi; do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e do vice-presidente do Bradesco, Octávio de Lazari. Além deles, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, participou dos debates que trataram de regulação e de fintechs.

 

Os apontamentos dos banqueiros levam em conta os últimos dados da economia. A produção industrial, por exemplo, recuou 2,4% em janeiro, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do recuo em relação a dezembro, o indicador teve expansão de 5,7% na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

Uma nova surpresa positiva é esperada pelo mercado na sexta-feira, quando o IBGE divulgará a inflação de fevereiro. No mercado, a mediana das expectativas aponta para uma variação de 0,33%. Havia quatro semanas, a estimativa era de 0,44%. As projeções são ainda melhores para março. Os analistas avaliam que o IPCA será de 0,25%. Tudo isso será levado em conta pelo BC para definir se cortará os juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 20 e 21 de março.

 

Termômetro

 

Enquanto no Brasil o debate é se o ciclo de corte de juros continuará ou terminará com uma queda adicional de 0,25 ponto percentual, em outros países o fim dos estímulos monetários ficou evidente. No dia 21, além da autoridade monetária brasileira, os bancos centrais de Taiwan, da Indonésia, das Filipinas, dos Estados Unidos e da Nova Zelândia terão reunião para definir se mantêm ou não as taxas inalteradas.

 

Em fevereiro, houve decisões de política monetária em 19 dos 33 países monitorados pelo Itaú, com corte de juros apenas no Brasil, e altas no México e na República Tcheca. Nos dois países, a alta chegou a 0,25 ponto percentual. “O número de bancos centrais subindo juros foi maior do que o número de bancos centrais cortando, mantendo a tendência de fim de estímulos observada desde o fim do ano passado”, informa relatório da instituição financeira.

 

Em março, haverá reuniões dos principais bancos centrais de países desenvolvidos. O Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos, deve aumentar os juros e sinalizar outras quatro altas em 2018 e três em 2019. Na Europa, avalia o Itaú, o BCE não deve alterar a comunicação a respeito do seus próximos passos, enquanto, no Japão, o BoJ deve manter um tom mais estimulativo. No Reino Unido o BoE tende a indicar que uma alta de 0,25 ponto percentual é provável na reunião de maio.