Correio Econômico: Quando os juros vão subir?

Publicado em Economia

A manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 6,50% ao ano pelo Banco Central reacendeu um debate que o mercado vinha mantendo adormecido há um bom tempo: a possível alta do custo do dinheiro ainda em 2018. Assim como o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu a maioria dos analistas ao não mexer agora na Selic, não está descartada a hipótese de, mais à frente, num quadro de piora das expectativas de inflação, o BC elevar a taxa básica. Por enquanto, ressaltam especialistas, tal probabilidade é pequena, mas não desprezível.

 

Tudo vai depender do comportamento do dólar, que vem empurrando os preços de vários produtos para cima, sobretudo os dos combustíveis; do quadro externo, que, até pouco tempo atrás, era apontando pelo BC como favorável ao Brasil; e, claro, dos rumos das eleições. A moeda norte-americana entre R$ 3,60 e R$ 3,70 ainda não provoca tanto impacto na inflação, por causa do fraco crescimento. Mas, se a divisa caminhar para os R$ 4, o quadro será bem diferente, levando o mercado a rever para cima suas projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e a uma onde a de repasses.

 

Na avaliação de Tony Volpon, economista-chefe do banco suíço UBS, a decisão do BC de manter os juros em 6,50% foi acertada. Contudo, é preciso deixar claro que os tempos fáceis para a política monetária — a Selic registrou 12 quedas seguidas desde outubro de 2016 — ficaram para trás. A partir de agora, o BC terá de transitar por um caminho bastante complicado. Qualquer erro de comunicação poderá resultar em aumento de juros. “O Banco Central terá que fazer as coisas certas para não ter que subir a Selic”, diz. Ele recomenda que a instituição faça uma intervenção mais forte no câmbio, com a venda de pelo menos US$ 5 bilhões em contratos de swap, nos quais aposta na baixa do dólar.

 

Volpon ressalta que, em tempos de crise, não se pode seguir à risca o livro-texto de economia. Por isso, o BC não só mudou a sua posição em relação à Selic — uma semana atrás, o presidente do banco, Ilan Goldfajn, disse que o Copom continuaria cortando os juros —, como poderá ser mais agressivo se a inflação ameaçar sair da meta. Pelos cálculos do próprio BC, com a Selic mantida em 6,50% por todo o ano, a projeção do IPCA está em 4% para este ano e o próximo. Não se pode esquecer que o centro da meta de 2019 é de 4,25%, ou seja, a margem de manobra da instituição para acomodar eventuais choques ficou menor. “Por isso, o BC terá de acompanhar muito de perto o repasse do câmbio para os preços”, afirma.

 

Prudência

 

O BC diz que, por enquanto, não há por que se preocupar com eventuais transmissões da disparada do dólar para os preços, devido à fragilidade da economia. Nas contas do banco, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou queda de 0,13% no primeiro trimestre do ano. Nesse contexto, é difícil para a indústria e o comércio reajustarem os valores de mercadorias. Por esse prisma, os juros até deveriam cair. Mas, na avaliação do Copom, o quadro externo se tornou mais desafiador, com aumento da volatilidade e redução do apetite de risco por economias emergentes, como o Brasil. Isso exige prudência.

 

Há, ainda, o agravante de o Congresso não ter aprovado nenhuma das medidas apontadas como vitais para o ajuste fiscal. A perda de poder do governo fez com que deputados e senadores enterrassem as 12 medidas apresentadas pela equipe econômica como prioritárias para a redução do deficit público depois da derrota da reforma da Previdência. Essa vulnerabilidade se agiganta em um mundo mais hostil, no qual o capital prefere se alojar em nações menos arriscadas, como os Estados Unidos, onde os juros estão em alta — a diferença das taxas entre os dois países está cada vez menor.

 

Com base nessas justificativas, diz um integrante da equipe econômica, o certo é que o BC não vai tolerar inflação acima da meta. Independentemente do ritmo da atividade, os juros vão subir para manter os preços sob controle. A instituição também não vai aceitar ser testada pelo mercado. Qualquer movimento considerado anormal será combatido com rigor. Isso vale, inclusive, para o câmbio. “Não descartamos que, na abertura dos mercados nesta quinta-feira, os operadores forcem uma alta do dólar e criem distorções nos contratos de juros futuros. Se fizerem isso, terão que aguentar a resposta do BC”, avisa.

 

Quando 2019 chegar

 

Para Carlos Thadeu Filho, economista sênior do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), o BC foi muito claro no comunicado pós-reunião do Copom: sua grande preocupação é com os riscos de disseminação da alta do dólar para os preços. Ele não acredita, porém, que a autoridade monetária esteja cogitando subir a Selic ainda neste ano. “Aumento de juros significa mais desemprego e redução do consumo. Não há por que reduzir ainda mais o ritmo da economia, que está com uma ociosidade gigantesca”, assinala.

 

Na visão dele, o aumento de juros só entrará no radar em 2019, já com o próximo presidente da República empossado. Se nada for feito para equilibrar as contas públicas, aí, sim, uma onda de desconfiança tenderá a varrer o país, com reajustes preventivos de preços. Por enquanto, com um BC responsável, os riscos de descontrole da inflação são praticamente inexistentes. A manutenção da Selic em 6,50% ajuda a afastar incertezas. O relógio, porém, está correndo.