Na avaliação de Solange Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), qualquer reajuste inferior a 13% para os planos de saúde individuais será um baque para o caixa das empresas. Ela ressalta que, nos últimos 10 anos, a despeito dos aumentos das mensalidades ter superado o custo de vida, em seis deles as operadoras registraram prejuízos. “Infelizmente, temos que repassar os aumentos dos custos com a saúde para os planos”, diz.
Tanto em 2016 quanto em 2017, a correção dos convênios individuais, regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), ficou em 13,5%. “A inflação da saúde, no entanto, girou entre 15% e 20%”, afirma Solange. “Com isso, nossas margens operacionais se reduziram muito”, acrescenta. O resultado disso é o fechamento de um número cada vez maior de pequenas operadoras, deixando milhares de pessoas sem convênios médicos e hospitalares.
Solange reconhece que os aumentos mais fortes dos planos — nos coletivos, a média superou os 20% — acabam inviabilizando o pagamento de mensalidades. Esse quadro se agravou depois que o país mergulhou na recessão, em 2014. Muita gente perdeu o emprego e a renda desabou. A partir de março do ano passado, no entanto, a maré começou a mudar. A reativação da economia permitiu o retorno de consumidores aos planos. Em janeiro último, foram 119,5 mil adesões.
Esse movimento, destaca a presidente da FenaSaúde, confirma o quanto o nível de atividade econômica move o mercado de planos de saúde. Se há retração do Produto Interno Bruto (PIB), imediatamente os brasileiros mais afetados abrem mão dos convênios médicos. Quando há crescimento, muitos buscam proteção, indicando a prioridade no caso da saúde.
Superfaturamento e fraudes
Para Solange, uma das formas de agregar mais pessoas ao mercado de saúde complementar seria a criação de planos mais baratos, como tentou o governo. A ideia, no entanto, foi muito mal trabalhada. “Tudo começou errado.” O discurso usado pelo governo criou a sensação de que convênios mais acessíveis não dariam as coberturas mínimas aos contratantes, quando, na verdade, os principais serviços oferecidos pelas operadoras estariam garantidos. O público-alvo desses planos chega a 40 milhões de pessoas, quase os 47,4 milhões existentes hoje.
“No caso desses planos mais baratos, as empresas precisariam de um controle rigoroso de custos. Também haveria a necessidade de coparticipação (em que os consumidores pagam uma parte da fatura)”, diz a executiva. Ela acrescenta que o controle de custos se tornou prioridade, independentemente do tamanho das operadoras, pois não há transparência nas faturas apresentadas pelos prestadores de serviços. Há fortes indícios de superfaturamento e fraudes. “Saíram as órteses e próteses (que lideravam as irregularidades) e entraram os cateteres e as agulhas. Os preços desses materiais subiram demais, sem explicação”, ressalta.
A despeito das justificativas das operadoras, de que a maior parte dos produtos usados por laboratórios e hospitais é importada e de que novas tecnologias, que custam caro, precisam ser incorporadas, fica difícil para os consumidores compreenderem reajustes tão elevados dos planos de saúde. A renda não cresce na mesma proporção e os gastos com convênios respondem por uma parcela cada vez maior do orçamento das famílias. Com certeza, será preciso um bom discurso por parte das operadoras para convencer a população de que, com a inflação mais baixa em 20 anos, os planos terão aumento pelo menos quatro vezes maior que o IPCA.
Brasília,