ANTONIO TEMÓTEO
Os pequenos luxos oferecidos aos ocupantes dos suntuosos gabinetes na Esplanada dos Ministérios mostram o tamanho do descaso com o dinheiro público. Após decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) manteve a proibição da posse da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) no Ministério do Trabalho. Entretanto, o carro oficial do ministro transitava, na tarde de terça-feira, 9, tranquilamente por Brasília, com combustível pago pelo contribuinte.
O colunista flagrou o automóvel, às 15h42, em frente à Churrascaria Floresta, região central da capital. Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério do Trabalho informou que o carro levava o secretário executivo da pasta, Helton Yomura, que assume o cargo de ministro em caso de vacância. “O secretário executivo é o ministro em exercício e está usando o veículo para deslocamentos”, informou o ministério. Entretanto, na agenda oficial do órgão público não constava qualquer compromisso oficial marcado para o dia.
Enquanto o carro desfilava pela capital, a deputada Cristiane Brasil se submetia ao constrangimento público de ir ao Palácio do Planalto para a posse, mas sair de lá sem o cargo de ministra do Trabalho. O governo informou que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que a parlamentar carioca possa ser empossada. Vale ressaltar que o secretário executivo da pasta também tem direito a um carro para deslocamentos. O veículo não possui placa em verde e amarelo e não garante o mesmo conforto do que os usados pelo chefe do ministério.
Marajá
Entretanto, em meio ao vaivém de nomes para comandar o órgão responsável pela formulação das políticas de emprego do país, caberia ao secretário executivo, então ministro interino, um pouco de discrição.
Muitos podem achar que, se ele usasse outro carro, esse debate não ocorreria. É verdade. Mas o caso é simbólico e mostra como, em Brasília, o status e a necessidade de afirmação são grandes. Mesmo que sem malícia ou intenção de desfrutar das benesses, o secretário executivo da pasta deixa a impressão de que é mais um marajá da capital federal.
Yomura não é servidor de carreira do Ministério do Trabalho. Coincidentemente, foi indicado para o posto pela deputada Cristiane Brasil. Antes de assumir o cargo, foi superintendente regional do Trabalho no Rio de Janeiro.
Brasília, 06h39min