Correio Econômico: Os especuladores saíram da toca

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POR ANTONIO TEMÓTEO

De olho na sangria que as eleições provocarão no preço dos ativos brasileiros, os especuladores saíram da toca e já estão com as facas nos dentes. Após o registro de candidatos e o início da campanha eleitoral, as mesas de corretoras, bancos, gestoras e fundos acompanham com lupa cada boato para aproveitar oportunidades de ganhar milhões de reais ou dólares com o prejuízo de companhias e do governo. As oscilações do mercado são o primeiro termômetro desse processo.

O desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e do dólar — que operavam, respectivamente, em alta e baixa no começo do dia — foi afetado pelo boato de que o Ministério Público de São Paulo poderia denunciar o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) por suposta prática de improbidade administrativa ao receber recursos de caixa dois de empreiteiras nas campanhas de 2010 e 2014. Com isso, a bolsa terminou o pregão em baixa de 0,34%, aos 76.818 pontos, e o dólar subiu 0,08%, vendido a R$ 3,904.

A volatilidade no preço dos ativos é uma medida que aponta a frequência e a intensidade das oscilações em um período determinado de tempo. Por meio dela, o investidor pode ter uma estimativa da variação do preço de um título, de uma ação ou de moedas estrangeiras.

Na prática, a volatilidade permitirá que o investidor avalie o papel em que pretende aplicar e a capacidade dele de gerar retorno. Entretanto, outras medidas de volatilidade mostram o tamanho do nervosismo do mercado e uma delas é a volatilidade implícita. Nesse caso é uma estimativa da volatilidade futura adotada pelo mercado financeiro.

No caso do dólar, a volatilidade implícita está em 20,5%. Há uma semana estava em 17% e em abril chegou a 12%. Significa dizer que os investidores temem que os preços tendem a oscilar mais em um futuro próximo. Alguns investidores são especialistas em ganhar dinheiro nesses períodos de movimentos especulativos. Uma prévia desse movimento ocorreu em junho, quando o Banco Central (BC), após sinalizar que cortaria os juros, manteve a taxa em 6,5% ao ano.

A sinalização da autoridade monetária preocupou investidores e levou os especuladores a sair da toca. O dólar disparou, chegou a R$ 3,96, e o BC precisou intervir no mercado cambial com a venda de swaps e leilões de linha. Com 13 candidatos na disputa pela presidência, e sem qualquer clareza sobre quem comandará o país a partir de janeiro de 2019, a tendência é de que o nível de volatilidade aumente significativamente.

Outro indicador que aponta para o temor dos investidores é a variação dos Credit Default Swaps (CDS) brasileiros de cinco anos. Os papéis, que são uma espécie de seguro contra calote, têm oscilado muito nas últimas semanas. Na sexta-feira passada, chegaram a 252 pontos, com a escalada da crise cambial na Turquia, caíram para 238 na terça-feira, com a redução do temor, subiram para 240 na quarta e ontem recuaram para 237 pontos.

Por enquanto, mesmo com o temor do mercado, a alta do dólar tem ocorrido com liquidez. Os especuladores estão de olho em dados negativos para fazer pressão no preço dos ativos. “A temporada de boatos começou e tem sido bastante associada a qualquer risco à candidatura tucana. Ele é o queridinho do mercado, por enquanto. Mas o capital gosta de sombra e água fresca. O maior risco é a esquerda crescer”, disse um investidor.

Imprevisibilidade

Outro especulador ressaltou que as opiniões são distintas no mercado. Os estrangeiros têm apostado na possibilidade real de Jair Bolsonaro (PSL) ser eleito presidente da República. Já os brasileiros continuam com a ideia de que a polarização entre PSDB e PT permanecerá, com chance de Alckmin chegar ao Palácio do Planalto. Em uma eleição com tantas incertezas, ignorar Marina Silva, o papel das redes sociais no pleito eleitoral, o nível de insatisfação da população e a Lava-Jato parece prepotência. “As eleições estão abertas e pouco se sabe sobre o comportamento do eleitor. Corremos o risco de um pleito com o maior nível de abstenção. Além disso, há um sentimento forte de incredulidade na classe política. Isso é um movimento global e o Brasil está totalmente inserido nesse contexto”, disse o especulador.

Ignorar a necessidade de ajustes e reformas é negar que as cores da bandeira do Brasil são verde, amarelo, azul e branco. Além de escolher o próximo presidente com sabedoria e discernimento, os brasileiros terão de avaliar com clareza quem elegerão para as assembleias legislativas, para a Câmara dos Deputados e para o Senado Federal. Serão esses senhores e senhoras, no fim das contas, os responsáveis por aprovar ou barrar as medidas necessárias para o país se livrar do estigma de baixo crescimento, inflação descontrolada e desemprego.

O Brasil têm 13 milhões de desocupados, além de gargalos estruturais que impedem o desenvolvimento. Reformas tributária, da Previdência, abertura comercial, investimentos em infraestrutura e educação são temas conhecidos, mas ignorados por todos os governos, interessados apenas em se perpetuar no poder por meio da reeleição. O Brasil precisa de um programa de Estado para que volte a crescer e para deixar de voar como uma galinha.

O país foi tomado por bandidos, muitos deles engravatados, roubando o sonho de muitos jovens que tiveram o futuro hipotecado. O ano da mudança é 2018 e as datas marcadas para iniciar o processo de transformação são 7 e 28 de outubro. A responsabilidade, não é novidade, deve ser compartilhada por todos nas urnas.

Vicente Nunes