ANTONIO TEMÓTEO
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado ontem reforçou o otimismo do mercado em relação ao processo de queda de juros e à recuperação do crescimento. Nas contas do Banco Central (BC), a inflação do ano terminará 2018 em 2,8%, em 2019, chegará a 4,2% e, em 2020, alcançará 4,1%. Conforme o documento publicado pela autoridade monetária, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou novas surpresas positivas.
Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana, a inflação projetada para os meses de setembro, outubro e novembro seria de 1,04%. Entretanto, o resultado observado foi de 0,86%, o que levou o IPCA, nos últimos 12 meses, a 2,80%. Para dezembro, a equipe de Ilan Goldfajn estima que a carestia terá variação positiva de 0,29%. Em janeiro, é esperada alta de 0,53%, em fevereiro, de 0,47%, o que levaria a inflação, nos três meses, a acumular alta de 1,30%.
Com isso, a inflação acumulada em 12 meses até fevereiro de 2018 chegaria a 3,09%. Entretanto, o mercado aposta em novas surpresas inflacionárias nos próximos meses. Até os mais otimistas, que apostam que o BC levará os juros para abaixo de 7%, acreditam que haverá espaço para uma queda maior. O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, um dos primeiros a projetar juros de 6,75% em 2018, começa a ver um espaço maior para flexibilização da política monetária. “Estamos achando que há espaço para cortar para 6,25% ou 6,50% no início do próximo ano, a julgar pelo quadro favorável de inflação e recuperação moderada da atividade”, diz.
Entretanto, o excesso de otimismo merece atenção. As projeções do mercado têm ignorado um nível maior de volatilidade da economia brasileira no próximo ano. Durante a divulgação do RTI, Viana evitou comentar sobre o cenário eleitoral de 2018. “Não cabe especular sobre contingências específicas”. Apesar disso, detalhou que, em qualquer evento com impacto relevante, a política monetária vai se ajustar para garantir o cumprimento das metas de inflação.
Mesmo que reservadamente, diversos analistas estão preocupados com as reais chances de o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) conquistar parte do eleitorado órfão do PT e do PSDB. Pesquisas qualitativas realizadas por diversas instituições financeiras indicam que Bolsonaro tem chances de cativar eleitores descrentes com os partidos tradicionais e que desejam melhorais, sobretudo, em temas relacionadas à segurança e à saúde. “Muita gente admite que ele está no páreo. Outro que assusta o mercado é o ex-presidente Lula. De todos, é o mais inteligente”, afirma um analista.
Lula tem reduzido o nível dos ataques e se diz disposto a conversar com o empresariado. O petista sabe que precisará de apoio do mercado se chegar ao Palácio do Planalto. Acalmar os investidores será essencial para que o país volte a crescer. “O PMDB não tem candidato, o (Henrique) Meirelles ainda não decolou e os tucanos estão se bicando. Não temos bons candidatos no páreo. Esse é o grande problema”, diz o mesmo analista.
Ritmo modesto
Otimista com o processo de queda de juros, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, projeta a Selic em 6,5% em 2018. Para ele, com a recuperação da economia em ritmo modesto, o maior risco para este cenário está atrelado ao câmbio. A eleição de um candidato extremista pressionaria o preço do dólar e provocaria uma fuga de recursos do país. Além disso, a piora do ambiente internacional afetaria o valor da divisa norte-americana.
A forte recuperação da economia dos Estados Unidos, com a taxa de desemprego comportada e dados de atividade surpreendendo positivamente, pode pressionar os índices de preços da maior economia do mundo. O risco é de que o Federal Reserve (FED) esteja atrás da curva de juros, o que evidenciaria a necessidade de aumentar a taxa mais rápido do que o esperado anteriormente.
A inflação nos Estados Unidos deve voltar em algum momento e, se houver alguma surpresa, o FED teria de tomar medidas para evitar que a variação de preços seja superior à sua meta. No Brasil, novamente, os impactos seriam sobre o dólar. Com alta de juros na maior economia do mundo, os investidores procuram proteção nos títulos do Tesouro norte-americano. A aprovação da reforma da Previdência mitigaria esses efeitos, já que o país sinalizaria concretamente ao mercado que está comprometido com o reequilíbrio das contas públicas.
Por enquanto, as perspectivas ainda são favoráveis para a economia brasileira, diante do cenário internacional benigno. Entretanto, ninguém sabe afirmar até quando o ambiente externo favorecerá o Brasil. Por isso, é fundamental que o Congresso Nacional aprove a reforma da Previdência. As negociações têm sido intensas e, mesmo com a materialização de parte desses riscos, a aprovação da reforma da Previdência garantiria ao país mais segurança para enfrentar turbulências. O BC já deixou claro que deve reduzir os juros em 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Porém, a garantia de juros baixos por um bom tempo depende do ajuste fiscal, que ainda não saiu do papel.
Brasília, 06h36min