Os investidores decidiram dobrar as apostas na condenação do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRT-4). Às vésperas da decisão que pode tornar o petista inelegível, a Bolsa de Valores cravou novo recorde, nos 81.675 pontos, e o dólar se manteve em R$ 3,20. Nas projeções dos analistas, com Lula fora da disputa pelo Palácio do Planalto, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, atingirá os 95 mil pontos. Caso o TRF-4 dê vitória ao petista, a bolsa deverá ceder até os 72 mil. Não será um tombo tão expressivo.
Ninguém no mercado acredita em uma crise profunda mesmo que Lula vença as eleições em outubro próximo. Ainda que os donos do dinheiro queiram ver o petista pelas costas, é consenso de que o ex-presidente tenderá a amainar o discurso à medida que a disputa nas urnas for se aproximando. Espera-se que, com chances de vitória, Lula deixe o radicalismo de lado e se alinhe ao pensamento dominante entre os investidores. O petista é pragmático o suficiente para não implodir todas as pontes que precisa manter com o setor privado. Isso passa, inclusive, por montar uma equipe econômica avessa a estripulias.
Os economistas veem a economia se recuperando lentamente, sem riscos inflacionários, o que permitirá ao Banco Central manter os juros nos níveis mais baixos da história por um bom período. Ciente disso, não interessa a Lula implodir a recuperação da atividade e assumir o governo sob total desconfiança. Como ele diz a um grupo restrito de petistas, uma coisa é o discurso de candidato neste momento crucial, em que suas intenções podem ser barradas pela Justiça. Outra, é governar o país. Não há presidente que consiga ficar de pé se a economia estiver em frangalhos.
Próximo de lixo
As perspectivas para o Brasil são positivas, mas longe de comemoração. Pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país crescerá 1,9% neste ano e 2,1% em 2019. Isso, é claro, se não houver nenhuma grande turbulência no meio do caminho, nem interna nem externamente. Com esse nível de crescimento, o Brasil continuará se expandindo abaixo da média mundial, de 3,9% ao ano. É aí que mora o perigo. Se, num quadro internacional muito confortável, de inflação e juros baixíssimos, a economia brasileira está crescendo timidamente, como ficará o país com o fim dessa bonança?
Para o FMI, uma desaceleração do crescimento mundial está mais perto do que se pensa. E apresenta seus argumentos: a possível alta da inflação nos Estados Unidos vai exigir um movimento mais rápido do Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, ou seja, elevação mais forte dos juros. Nesse contexto, o dólar se fortalecerá e o risco de um ajuste “disruptivo” nas bolsas de valores será enorme. O endurecimento das condições financeiras terá implicações em todo o planeta e a redução dos fluxos de recursos baterá pesado em países superendividados. É o caso do Brasil, cuja dívida pública caminha rápido para 80% do Produto Interno Bruto (PIB), podendo passar dos 100% se a reforma da Previdência não for aprovada.
O Brasil tem uma das piores situações fiscais entre as nações emergentes. Desde 2014, as contas estão no vermelho e não há perspectiva de reversão, pelo menos até 2021. Num ambiente hostil, de desconfiança, os investidores tendem a buscar portos seguros para manter o dinheiro. O país, infelizmente, perdeu essa chancela há três anos. Pela classificação da Standard & Poor’s (S&P), a principal agência de risco do planeta, o Brasil está próximo de ser considerado lixo. A equipe econômica chefiada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já admite novos rebaixamentos do país pela Moody’s e pela Fitch.
Volta à pobreza
Diante de tais perspectivas, é prudente que o Brasil se mantenha nos trilhos. O Lula candidato, contra o ajuste fiscal e a reforma da Previdência, não combina com a segurança que o país necessita para continuar avançando. É por isso que os investidores torcem tanto para que ele seja alijado da disputa pela Presidência da República. Mesmo que o Lula truculento seja uma jogada de marketing para manter a militância nas ruas, ninguém quer correr o risco de retrocessos. Os últimos três anos foram traumáticos demais. Uma das piores recessões da história roubou o futuro de muita gente. O desemprego disparou e a miséria cresceu. Milhões de pessoas que foram agregadas ao mercado de consumo voltaram à pobreza.
Para quem contribuiu, quando presidente da República, para a redução da desigualdade social — um feito histórico manchado pelas loucuras cometidas por Dilma Rousseff — o petista deveria agir com mais bom-senso. Incitar a violência, estimular a guerra ideológica, tentar desqualificar o Judiciário e pregar o rompimento com as boas práticas na política econômica só empurram o país para um limbo em que ninguém ganha. Nem Lula.
Brasília, 06h28min