Correio Econômico: O efeito dos juros

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Nas contas da Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Fazenda, os juros altos tiraram 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2017. A Selic começou o ano 13,75%, mesmo depois de o Banco Central (BC) ter iniciado o ciclo de redução em outubro do ano passado. A estimativa de perda divulgada ontem faz parte da grade de parâmetros macroeconômicos apresentados pelo secretário de Política Econômica, Fábio Kanczuk, e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Segundo eles, a economia crescerá 1,1% em 2017 e 3% no próximo ano. Kanczuk detalhou que 1% do crescimento será impulsionado pela política monetária, que, de acordo com o presidente do BC, está em terreno estimulativo. Na prática, eles afirmaram que os juros baixos tendem a favorecer a retomada da atividade. No último encontro com jornalistas, o chefe da autoridade monetária deixou claro que não se arrepende de ter começado o ciclo de redução da Selic somente em outubro. Ele explicou que a medida foi fundamental para ancoragem das expectativas de inflação e para a queda do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Contudo, mais importante do que isso é saber por quanto tempo os juros permanecerão baixos, nesse patamar. O próximo encontro da autoridade monetária ocorrerá em 6 e 7 de fevereiro, quando há a expectativa de que uma redução de 0,25 ponto percentual seja deliberada pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Na ata do último encontro, a palavra “reformas” foi citada sete vezes, o que deu ainda mais peso à necessidade de o Congresso Nacional aprovar as mudanças nas regras para concessão de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Entretanto, as idas e vindas da votação da reforma da Previdência podem afetar a decisão do colegiado. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou ontem que a reforma será votada em 19 de fevereiro, após a reunião do Copom. No mercado, diversos analistas são céticos sobre as chances de o texto ser apreciado no começo do ano, quando o país já estará tomado pelo clima eleitoral. Para piorar a situação, a autoridade monetária pode ser obrigada a subir os juros diante da volatilidade esperada para o próximo ano.

Riscos

Parte dessa volatilidade começou a ser sentida nesta semana. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou o pregão em queda pelo segundo dia consecutivo, com redução de 0,67%, aos 72.428 pontos. Já o dólar subiu 0,82%, negociado a R$ 3,337. A tendência de desvalorização dos ativos brasileiros deve aumentar após a agência de classificação de risco Moody’s sinalizar que a decisão de adiar a votação da reforma da Previdência pode levar a um novo rebaixamento.

Atualmente, a nota do Brasil está dois degraus abaixo do grau de investimento. O rating do país dado pela Moody´s é de Ba2, com perspectiva negativa desde maio.“O adiamento da votação da reforma da Previdência é um fator de crédito negativo e indica falta de apoio político para a proposta. Isso aumenta a possibilidade de que a reforma não seja aprovada no ano que vem, dada a incerteza em torno das eleições presidenciais”, afirmou em nota o vice-presidente e analista sênior da Moody’s para ratings soberanos, Samar Maziad. Para ele, o adiamento fortalece as preocupações sobre a capacidade do governo para cumprir o teto de gastos e apontar uma solução para os problemas fiscais do país.

Todo esse imbróglio pode se agravar caso o cenário internacional, atualmente benigno para a economia brasileira, piore. Essa perspectiva foi aventada pelo presidente BC no último encontro com jornalistas. De acordo com ele, em algum momento, esse processo será interrompido e pode trazer ainda volatilidade para a país. “O cenário internacional encontra-se benigno, mas é prudente não considerar que essa situação vai se perpetuar. Algo que não está no nosso controle não devemos tomar como dado. O que significa que os ajustes e reformas, em particular a reforma da Previdência, são fundamentais para o equilíbrio da economia. Significa que essa inflação baixa se sustenta. Que essa taxa de juros se sustenta”, destacou Ilan.

Brasília, 06h06min

Vicente Nunes